domingo, 17 de maio de 2015

Sobre Remuneração de Diretores de Escolas




Sobre Remuneração de Diretores de Escolas

Nota: o presente trabalho foi escrito em 2006, utilizando os valores da época.

CERTAS CONTINHAS ou PERDAS E GANHOS NA FUNÇÃO DE DIRETOR DE ESCOLA
Ou:
DE COMO CERTOS CÁLCULOS ESCLARECEM UM DETALHE APARENTEMENTE SEM EXPLICAÇÃO NO PROVIMENTO DO CARGO DE DIRETOR DE ESCOLA: UM EXPERIMENTO EM MONOGRAFIA.

Autor: JORGE, O DA VIRIATO, (*) Jorge Luiz. 


Trabalho apresentado ao léu como treinamento
para a futura redação de uma monografia, baseado no
adágio italiano de  que ‘sbagliando s’impara “,
 isto é, “errando é que se melhora”.






RIO DE JANEIRO
2006

(*) – “Né”, francês, significando “nascido”.  O mais comum é vir no gênero feminino “NÉE” (nascida), termo usado antigamente pelos colunistas sociais para indicar o sobrenome de solteira de uma dama da sociedade. Já está provado que o emprego da palavra era uma forma de vingança, visto que algumas damas posudas e sofisticadas, com sobrenome de escrita e pronúncia difíceis, tinham sido uma “Silva” catadora de xepa em feiras do subúrbio. Atenção à prosódia: “né” rima com “henê” e não com “mané”.


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Agradecimentos


Antes do início de uma monografia, a praxe é que se façam alguns agradecimentos e dedicatórias patéticas. Como se trata de um experimento, vai tudo numa página só para economizar papel.
Meu preito de gratidão à Microsoft por ter criado o Word, sem o qual ficaria difícil redigir o trabalho, já que teria me contentar com a máquina datilográfica, com a qual se escreve, mas não se edita;
Meu débito com a Light que não me deixou no escuro; como não sou morcego, só sei escrever no claro.
Grato também a CEDAE que garantiu o fornecimento de água, sem a qual ficariam difíceis tarefas cotidianas de ordem fisiológica, sobretudo as líquidas e barrosas,  sem ser acompanhadas de mau cheiro nos sanitários.
Agradeço a CEG que, ao garantir o fornecimento de gás, proporcionou-me cafezinho sem ter que lançar mão do fogãozinho Jacaré e seu cheiro horroroso de querosene.

Dedico este livro a mim mesmo,  pois  mereço;
À Dona Aparecida, a augustíssima consorte, que em nenhum momento me desviou da tarefa para trocar lâmpadas ou carregar bolsas de compras; 
Á Juliana, minha filha, por ser adulta e, portanto, não ficar me pedindo para jogar videogame.

Também é praxe fazer citações bacaninhas. (*) Ei-las todas aqui para evitar a derrubada de árvores, matéria-prima do papel:
“Deus me poupou o sentimento do medo” (Juscelino Kubitschek)
“Nasce um otário a cada minuto” (P.Barnun, empresário circense americano)
Aquela música dos Titãs, EPITÁFIO, sucesso absoluto em seminários e capacitações.



(*) – Não farei nenhuma citação de Paulo Freire, a fim de evitar a mesmice e a suspeita de que me falta imaginação.


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1. DA METODOLOGIA UTILIZADA

Como vamos lidar com questões salariais, impõem-se esclarecimentos sobre a metodologia empregada.

Consideramos o Professor I ou II com mais de 10 anos, isto é, no último nível da carreira de acordo com a legislação em vigor. O Professor II tem nível superior e está enquadrado como tal, isto é, recebe o mesmo vencimento do Professor I.

Nos cálculos que envolvem a carga horária mensal, multiplicamos a carga horária semanal por 4 e não por 4,5 como é assente, levando-se em consideração o repouso remunerado.
Multiplicamos por 12 e não por 13 para se obter o valor anual. Desconsideramos, portanto, o 13º salário.

Desconsideramos também os triênios a que os docentes fazem jus de acordo com o tempo de serviço: os triênios, por sua natureza, sofrem variação e , neste trabalho, não farão diferença na remuneração antes e depois de assumir a função de diretor de escola.

Como não foi possível obter dados sobre remunerações no passado, tomamos por base o que é pago atualmente. Como nos faltam aqueles elementos e é de se presumir que as cifras atuais sejam superiores às de antanho, as conclusões poderão ser entendidas como situações-teto, isto é, seriam os maiores valores de perdas e ganhos.

Consideramos os cargos de PROFESSOR II e PROFESSOR I. O cargo de ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO (E.E.) foi desconsiderado, embora esteja em situação semelhante ao do PROFESSOR I.

Por derradeiro, algo que não tem nada a ver com metodologia, mas merece esclarecimento.
Segundo as normas da ABNT, trabalhos acadêmicos devem ser escritos empregando-se a fonte Times New Roman, tamanho 12.

Problema da ABNT! Faremos diferente... Achamos que esta norma foi fruto do conúbio de um livreiro pão-duro e de um dono de clínica de olhos: se gasta menos papel e arrebenta-se a visão (e com isto garante a clínica mercado para o seu negócio...).


2. DO OBJETIVO DO TRABALHO
O trabalho nasceu da necessidade de se responder a seguinte pergunta: Por que a grossa maioria dos diretores de escola são PROFESSORES II?

Conforme publicação do DIÁRIO OFICIAL de 29/12/2005 com os nomes dos diretores eleitos, constata-se que os detentores do cargo de Professor II são maioria absoluta e relativa em todas as Coordenadorias Regionais de Educação (CRE’s). Fizemos os cálculos com as remunerações percebidas e os resultados nos surpreenderam. Pensamos até que tivéssemos, em algum momento, cometido erros. Refizemos todos os cálculos __ e o espanto se confirmava.

Não acreditamos que o fenômeno (a grossa maioria de Prof II como diretor) se devesse ao raciocínio empregado na presente obra.  Acreditamos em intuição. O Prof I raciocinaria que, regendo turma, iria três dias à escola, daria 12 tempos de aula, cumpriria 4 horas complementares e ponto final; como diretor, o Prof I trabalharia de segunda a sexta, 40 horas semanais, fora as amolações inerentes ao cargo __ neste último caso, mesmo nunca tendo sido diretor, qualquer professor é suficientemente inteligente para perceber...

O Professor II veria a situação da seguinte maneira: trabalho de segunda a sexta de 7h às 12h; como diretor, continuarei trabalhando de segunda a sexta e, ao invés de sair às 12h, poderei sair às 15h... Seria ficar mais um pouquinho na escola __ isto, naturalmente, se ele não considerasse todas as aporrinhações inerentes...

Os números que virão a seguir confirmarão a intuição de ambos __ e de maneira surpreendente...





3. DOS CÁLCULOS.
3.1: Da Remuneração do Professor I
Suponhamos os dois contracheques abaixo de Professor I:
No primeiro, ele é regente de turma :
Vencimento
Cargo/Função
Gratificação
Total mensal
1011,07
Regente
0
1011,07

No segundo, ele é Diretor IV de escola:
Vencimento
Cargo/Função
Gratificação
Total mensal
1011,07
Diretor IV
898,14
1909,21

Se indagássemos quem ganha mais, a resposta seria o Professor I que é Diretor IV. De fato, 1909,21 é MAIOR que 1011,07...

Entretanto, estamos falando de salário. O salário de um trabalhador é um quantum que ele recebe por determinadas horas trabalhadas; significa isto que a unidade de uma remuneração é o salário-hora. Irrelevante se é por 15 dias ou um mês: o salário-hora será definido pelo quantum que se recebe por quinzena ou por mês dividido pelo número de horas trabalhadas por 15 ou 30 dias.

Comparemos novamente as remunerações, já com novos dados inseridos:

Vencimento
Cargo/Função
Gratificação
Carga semanal
Carga mensal
Salário-hora
1011,07
Regente

0
14 h
14 x 4 = 56 h
1011,07: 56 =18,05

Vencimento
Cargo/Função
Gratificação
Carga semanal
Carga mensal
Salário-hora
1011,07

Diretor IV

898,14
40 h
40 x 4 = 160 h
1909,21: 160 = 11,93

E agora, quem está ganhando mais?

As 14 horas semanais significam :
12 tempos de 50 minutos = 600 minutos >  10 horas
Horário complementar :                           >    4 horas
Total:                                                   >   14 horas

Antes de responder, vejamos a remuneração do Professor II.

3.2: Da Remuneração do Professor II
Suponhamos os dois contracheques de Professor II:
Vencimento
Cargo/Função
Gratificação
Carga semanal
Carga mensal
Salário-hora
1011,07

Regente

0
22,5
22,5 x 4 = 90
1011,07: 90 = 11,23

Vencimento
Cargo/Função
Gratificação
Carga semanal
Carga mensal
Salário-hora
1011,07

Diretor IV

898,14
40 h
40 x 4 = 160 h
1909,21: 160 = 11,93

3.3: Conclusões.
Se considerarmos exclusivamente o valor absoluto (R$ 1909,21) do total da remuneração de Professor I e de Professor II na função de Diretor IV, podemos afirmar que ambos passam a ganhar mais.
Em termos relativos, isto é, levando-se em consideração o salário-hora/carga horária, a conclusão é diversa.
O Professor I passa da carga horária mensal de regente (56 horas) para a carga horária mensal de Diretor IV (160 horas). Seu salário-hora como regente passa de R$ 18,05 para o salário-hora de Diretor IV R$ 11,93. Ocioso dizer que o salário-hora do Diretor IV (e vamos fazer de conta que não aumentam suas responsabilidades e que a função é “moleza”...) é menor que seu salário-hora de regente de turma...
O Professor II passa da carga horária mensal de regente (90 horas) para a carga horária mensal de Diretor IV (160 horas). Seu salário-hora como regente passa de R$ 11,23 para o salário-hora de Diretor IV R$ 11,93. Como 11,93 é maior que 11,23, conclui-se que o Professor II sai ganhando... Bem, são R$ 0,70 a mais por hora... Mixuruca, sem dúvida, mas sai ganhando...
A situação torna-se mais delicada quando adicionamos um novo elemento à discussão: a Constituição Federal. Pela Constituição Federal, nenhum trabalhador pode ter seu salário reduzido.


Assim sendo, vejamos.
O Professor I tem sua CARGA HORÁRIA AUMENTADA e SEU SALÁRIO-HORA concomitantemente reduzido. Se aplicássemos o princípio constitucional da IRREDUTIBILIDADE SALARIAL, este Professor I teria que ganhar um “X” em dinheiro para compensar o incremento na sua jornada de trabalho...
Trocando em miudinhos: se ele passou de 56 horas para 160 horas mensais, ele deveria receber uma quantia que COBRISSE as horas a mais que passou a trabalhar. Se, como dissemos, a unidade de medida do salário é o SALÁRIO-HORA, então o Professor I deveria continuar ganhando R$ 18,05 por hora, MESMO SENDO DIRETOR. Fazendo os cálculos, o Professor I deveria receber:

R$ 18,05 x 160 = R$ 2888,00


Como ele só recebe R$ 1909,21, a diferença é de:

R$ 2888,00 – 1909,21 = 978,79

NOVECENTOS E SETENTA E OITO REAIS E SETENTA E NOVE CENTAVOS é quanto o Professor I perde mensalmente ao ser alçado à condição de Diretor de Escola. Prosseguindo nos cálculos, EM um ANO (12 meses), o Professor I na função de Diretor perderia:

R$ 978,79 x 12 = R$ 11.745,48

Em três anos (duração de um mandato), a perda acumulada seria:

R$ 11.745,48 x 3 = R$ 35.236,44



Se o Professor I perde, o Professor II ganha. Pouco, mas ganha. São R$ 0,70 a mais por hora.
Semanalmente – 0,70 x 40 = 28,00
Mensalmente – 28,00 x 4 = 112,00
Em um ano – 112 x 12 = 1344,00
Em três anos (duração de um mandato) = 1344,00 x 3 = R$ 4032,00

O ganho do Professor II é magrinho, mas a perda do Professor I é gordona...

4. OUTROS CÁLCULOS
Muitos podem argumentar que não levamos em consideração os triênios. Não consideramos os triênios porque, no caso, não iria alterar nada. Na condição de regente ou na condição de Diretor IV, os Professores I e II recebem seus triênios igualmente. Por exemplo, um Professor I que tenha 50% de triênios (sobre o vencimento de 1011,07), receberá R$ 505,54 tanto como regente ou diretor de escola. Idem o Professor II que tenha o mesmo tempo de serviço.

Mas será possível que o Professor I em nenhum momento ganhe nada?

Não é bem assim. Há situações em que o Professor I pode ganhar, a saber, quando ele vai para um Cargo em Comissão mais elevado que o DAS-6 de Diretor. O raciocínio é bem simples. Se a perda mensal é de R$ 978,79, qualquer DAS de valor SUPERIOR a esta quantia representará um ganho para o Professor I. É o caso de se procurar saber os valores de DAS-07, DAS-08, DAS-09 etc. A razão do ganho é que a carga horária semanal do símbolo DAS é sempre 40 horas.
O Professor II, se já ganha com o DAS-06, muito mais ganhará com um DAS superior a este. Elementar...

No caso de DUPLA REGÊNCIA, a vantagem pende para o Professor I sem que isto queira dizer que o Professor II necessariamente perca alguma coisa.
Fazendo DR, tanto o Professor I como o Professor II dobram sua carga horária. Bem entendido, se o Professor I reger 12 tempos mais o horário complementar; sabemos que, às vezes, o Professor I rege menos de 12 tempos na Dupla e, por conta disto, recebe proporcionalmente aos tempos trabalhados.
Se ambos dobram a carga horária, está claro que o salário-aula de cada um como regente dobrará:

Professor I em DR ganhará 18,05 x 2 = R$ 36, 10 por salário-hora.
Professor II em DR ganhará 11,23 x 2 = R$ 22,46 por salário-hora

Em suma, o Professor II fora de turma num CARGO EM COMISSÃO sempre sairá ganhando. O Professor I fora de turma num CARGO EM COMISSÃO só terá vantagem se o Cargo em Comissão gratificar com um valor superior a R$ 978,79. E não custa nada lembrar: este valor é o calculado presumindo-se que o Professor I ou II esteja no ÚLTIMO NÍVEL DA CARREIRA.

Especificamente como diretor, o Professor I só tem a perder __ e perder muito dinheiro... (*)











(*) – Estes cálculos são extensivos a outros cargos que não o de Diretor de UE. Qualquer cargo com símbolo DAS-06 é prejuízo para Professor I e vantagem para o Professor II. Acima de R$ 978,79, o Professor I ganha e o Professor II ganha mais que ele.

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5. A INCORPORAÇÃO TRAZ ALGUMA VANTAGEM?

Após certo período na função, tanto o Professor I como o Professor II podem incorporar o valor do DAS a título pessoal.
Será vantajoso?
De pronto, posso responder que para o Professor II é vantajoso. Já para o Professor I...

Após 8 anos na função (se não mudou a legislação...), o Professor I (e o Professor II) poderá incorporar o valor do símbolo. São R$ 898,14. Entretanto, para ele incorporar o DAS-06, o Professor I durante 8 anos acumulou perdas. Voltando aos cálculos, se em 1 ano ele perde R$ 11.745,48, em 8 anos ele perdeu :

11.745, 48 x 8 =R$ 93.963,84

Se ele for para casa aposentado, paciência... A perda já ocorreu... Entretanto, ele pode , a longo prazo, sair ganhando se permanecer no cargo após a incorporação.
Os proventos de Professor I no cargo de Diretor após a incorporação serão o seguinte:

1011,07 + 898,14 + 898,14 = R$ 2807,35

Entenda-se: ele ganhará o seu vencimento, a gratificação do símbolo por estar no cargo e a gratificação do símbolo novamente por ter incorporado.
Ele trabalhou oito anos como diretor, incorporou e ficou mais 8 anos depois da incorporação, sendo que agora ele ganha R$ 2807,35 mensalmente. Como ele teria que ganhar R$ 2888,00 por mês, conforme nós já vimos, ele reduz drasticamente sua perda mensal :
2888,00 – 2807,35 = R$ 80,65

Em 1 ano sua perda será de 80,65 x 12 = 967,80
Como ficou 8 anos na função depois da incorporação:

967,80 x 8 = R$ 7772,40

Conclusão: depois de incorporar a gratificação, o Professor I ainda terá uma perda acumulada de R$ 7772, 40 nos oito anos pós-incorporação.

Bem, então este Professor I vai pra casa aposentado... mas decide voltar à ativa tornando-se o bravíssimo diretor 70/
Será vantajoso? Bem, vamos às contas.
Como aposentado, ele recebe o vencimento mais a gratificação incorporada:

1011,07 + 898,14 = 1909,21

Voltando à função como 70/ ele passará a receber mensalmente
1909,21 + 898,14 = R$ 2807,35

Em 1 ano : R$ 2807,35 x 12 = R$ 33.688,20

Mas, o bravíssimo colega ainda tem uma perda para zerar, a de R$ 7772, 40 acumulada em oito anos após a incorporação MAIS a perda de R$ 93.963,84 DE ANTES DA ACUMULAÇÃO:

93.963,84 + 7772,40 = R$ 101736,24

Para zerar as perdas de 16 anos, note bem , ZERAR,  ele teria que trabalhar como diretor 70/ :
101736,24 : 33.688,20 = aproximadamente 3 anos.



Resumindo: o Professor I trabalha como diretor durante oito anos acumulando perdas; após este período incorpora a gratificação e trabalha mais oito anos, ainda acumulando perdas, agora diminuídas; aposenta-se; depois de aposentado volta à função e trabalha mais ou menos três anos para ZERAR as perdas.

Zeradas as perdas, ele poderá continuar na função por mais três anos para RECUPERAR o dinheiro perdido. Somando os períodos, 22 anos...

Acho que dá vontade de dizer palavrão...

Creio que respondi à pergunta inicialmente proposta. A grossa maioria de diretores é formada por Professores II  por estes números que mostramos. O Professor I só perde __ mas pode recuperar , desde que se aposente e retorne à ativa. São 22 anos...

Se assim é, ele tem que começar bem cedo, bem longe da própria aposentadoria... Se ele começar a dirigir escolas depois dos 50 anos, lá pelos setenta e poucos anos ele, finalmente, terá um ganho real por tão estressante função.

É... Dá vontade de dizer palavrão...


Rio de Janeiro, 9 de janeiro de 2006.



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