domingo, 9 de abril de 2017

A GUERRA na SÍRIA


A GUERRA na SÍRIA

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Síria 1: A minha 1ª guerra: Trump lança 59 mísseis contra base
Presidente americano precisava de bum bom pretexto para tentar sair da irrelevância; se ele tiver aparência humanista, melhor



Míssil parte de navio rumo a base militar na Síria: ao todo, 59 (Departamento de Defesa dos EUA)

Donald Trump precisava de um grande evento — podendo evocar razões humanistas para um bombardeio, tanto melhor — para tentar sair da irrelevância a que já estava condenado com pouco tempo de poder. E o pretexto lhe foi fornecido na Síria. O governo dos EUA diz que o ditador Bashar Al Assad é o responsável por um ataque químico que, na quinta, matou 80 pessoas numa cidade governada por “rebeldes”.

E o que fez Trump, o dito isolacionista, que não iria se meter em guerras fora dos EUA? Mandou bombardear a Síria. O Pentágono informa que 59 mísseis Tomahawk partiram de dois navios americanos no mar Mediterrâneo, atingindo a base aérea de Al Shayrat, em Homs. A ação, que teria durado quatro minutos, teria destruído caças, munição, radares e outros equipamentos.

Enfim, quem sabe, um princípio de solução para a Síria??? Podem esquecer. E vou elencar os motivos em outros posts.


Síria 2: Trump só está repetindo o erro de seu antípoda: Obama!

Não existe lado bom lutando no país. Um ditador sanguinário enfrenta a aliança de grupos terroristas, eis a verdade inquestionável

Escrevi muitas dezenas de textos contra a Síria. Nunca um país errou tanto, durante tanto tempo e de forma tão continuada. Refiro-me aos EUA.

Procurem nos arquivos deste blog. Desde o primeiro momento das ditas ações rebeldes, o que se tinha na Síria eram ataques terroristas. Sabem a tal cidade que sofreu o ataque com armas químicas? De fato, é governada por opositores de Assad: no caso, é o braço local da… Al Qaeda.
A única coisa boa que sobrou na Síria é seu povo inocente, que morre aos milhares e tenta refúgio. Não há lado virtuoso nessa guerra.

Assad é um assassino, um carniceiro, um tirano. Não duvido de que possa ordenar um ataque químico. Ou ser conivente com ele. Ou optar pelo uso de armas químicas. Nunca duvide de nada ali.
Mas não só em relação a Assad: isso vale também para, atenção!, todos os seus adversários. Advogam, estes também, uma ditadura, só que de caráter religioso. Temos um sanguinário lutando contra terroristas.
E os erros dos EUA? Ora, armar, como fizeram, os rebeldes  correspondeu a, mais uma vez, dar infraestrutura ao terrorismo. Lembrem-se do Afeganistão…

Nunca houve uma luta democrática, de resistência ou algo do gênero contra Assad. Como inexistia lado bom na guerra que derrubou o ditador Muamar Kadafi, na Líbia.

A consequência do apoio objetivo dos EUA e aliados aos movimentos que derrubaram Kadafi e que tentam ainda derrubar Assad foi espalhar o terrorismo pelo Oriente Médio e norte da África.
Trump só está repetindo o erro de Barack Obama.


Síria 3: Você tem de decidir se quer ter a coragem de estar certo

Estava tudo lá: o erro dos EUA; a insurgência como obra dos terroristas; o “péssimo com Assad, mas pior sem ele”, o risco de o terrorismo sair do controle

O que se tem na Síria é uma guerra civil, com os insurgentes recorrendo a métodos terroristas — análogos ao terrorismo de estado, este a serviço do regime de Bashar Al Assad.

Chegam a ser engraçadas algumas reações dos cretinos, aqui no Brasil, a textos que tenho escrito sobre a dita “Primavera Árabe”. Alguns petralhas latem: “Vai lá, Reinaldo, se juntar a Assad”. Outros rosnam: “Assad, não permita que os estadunidenses tomem conta da Síria”. “Estadunidense”? Coisa de gente chulé.

O Bananão já se chamou “Estados Unidos do Brasil”, mas o patronímico mais óbvio e fácil na nossa língua era mesmo “brasileiros”, como “American” é o mais óbvio, fácil e sintético, em inglês, para quem nasce numa terra denominada “The United States of America”. Afinal, o nome indica que os “United States” estão na América, não que toda a América pertence aos “United States”. A menos que se ache que, há quase 250 anos, eles tomaram a decisão precoce de dominar as Américas e o mundo… Tenham paciência! Ainda que seja raro, pode haver uma diferença entre anti-imperialismo e burrice. Mas me desviei. Volto ao ponto.

Na convencional

O fato de eu não ter uma opinião exatamente convencional sobre a Primavera Árabe tem gerado algum ruído. Chamo de convencionais — que não emprego como sinônimo de “erradas” necessariamente — as duas visões majoritárias. A primeira é esta: está em curso o florescimento de uma opinião pública no mundo árabe mais afinada com os valores das democracias ocidentais, e isso é positivo, razão por que devemos dar apoio, moral que seja, aos levantes contra ditadores asquerosos. É a mais simpática, sem dúvida, e a que tem juntado os que considero equivocados de boa-fé.

A outra análise apela a alguns clichês mentais do esquerdismo chinfrim: os Estados Unidos e seus títeres estariam por trás dessas manifestações e, ao dar apoio aos insurgentes, desrespeitam a soberania dos países. Já houve, sim, claro, desrespeito à soberania — a Líbia foi o maior exemplo disso. Mas me parece absolutamente despropositada a suposição de que o “imperialismo” tenha algo a ver com aquilo. Quando menos porque a onda derrubou governos que eram apoiados pelos EUA. Assad é uma exceção. De todo modo, era considerado a moderação possível na Síria.

A minha síntese dos dois grupos pode não ser perfeita — seus respectivos representantes certamente reivindicam opiniões mais complexas e informadas do que isso —, mas serve para esclarecer o meu ponto de vista ao menos. Infelizmente, não acho que o espírito que anima os levantes seja a adesão a valores da democracia ocidental. Ao contrário até: entendo que o que se fortalece nesses países é o radicalismo islâmico.

A adesão a instrumentos de consulta da opinião pública — como eleições, por exemplo —, acho eu, é uma etapa na formação de estados religiosos. Repugna-me a ditadura? Ora, é claro que sim! Mas vejo, em estado larvar, uma outra, bem mais perversa. As mesmas mentalidades — as mesmíssimas — que hoje cantam as glórias da Primavera Árabe já cantaram as glórias da “Primavera Iraniana”. Já comentei aqui o entusiasmo com a revolução islâmica liderada pelos aiatolás de um intelectual como Michel Foucault. A quantidade de bobagens que escreveu a respeito, lidas agora, à distância, é uma coisa fabulosa.

Jornalismo
Incomoda-me ainda, e aí é incômodo também profissional, a visão ingênua do jornalismo sobre esses levantes, tratados todos como se fossem da mesma natureza e com as mesmas características. O do Egito, por exemplo, conduzido desde sempre pela Irmandade Muçulmana, não foi armado — não com armas de fogo ao menos. Os “mártires” ofereceram o próprio corpo ao sacrifício, certos da recompensa eterna. Na Líbia, desde o início, assistiu-se à deflagração de uma guerra civil, e os insurgentes, a exemplo do que acontece na Síria, estavam fortemente armados. Quem os financia? De onde saem os recursos? Com quais propósitos? Certamente não são alimentados pelo, sei lá, “Fundo Tocqueville de Apreço Pela Democracia”.

Conheço, já contei aqui, famílias sírias no Brasil que têm parentes em seu país de origem. Desde o começo do levante, relatam a espantosa violência dos insurgentes. Como Assad é um ditador, suas versões sobre os fatos, e não por maus motivos, sempre caem no descrédito. Mas o fato é que também os que se opõem ao governo recorrem a execuções sumárias, ações terroristas, barbárie. Não vou abrir meus braços para essa gente e saudar: “Bem-vinda à democracia!”.

Síntese e emblema

Mais: a Síria é uma espécie de síntese ou emblema de todas as questões que têm se mostrado até agora insolúveis no Oriente Médio, a começar de sua própria composição interna. Os Assad pertencem à minoria alauíta — 10% da população —, um ramo do xiismo odiado, igualmente, pela maioria sunita e pelos xiitas. São hoje parte da elite dirigente do país. A chance de que essa e outras minorias — como a cristã, por exemplo — venham a ser esmagadas é grande. E isso pode se dar sob o silêncio cúmplice da imprensa ocidental, a exemplo do que se verifica no Egito. O assassinato de cristãos naquele país “democrático” se tornou corriqueiro. Estão sendo expulsos de suas propriedades. As igrejas estão sendo incendiadas. Nada disso é notícia!

Assad, por óbvio, não é um ditador simpático a Israel, mas encontrou ali um lugar que eu definiria de passiva beligerância. Não há um só motivo para acreditar que os que querem derrubá-lo investiriam na paz. O atentado, saudado por representantes da oposição síria, foi praticado por um grupo islâmico fundamentalista.

Nego-me a me comportar como o Foucault de Higienópolis, entenderam? Assad é um assassino asqueroso, como era o xá Reza Pahlev, no Irã. Vejam lá a maravilha de democracia e tolerância em que se transformou o Irã… Os métodos a que aderiram os insurgentes sírios não me animam, e não vejo uma trilha virtuosa caso cheguem ao poder. De resto, entendo que o Oriente Médio e a África islâmica passam, infelizmente, é por um processo de “desocidentalização”, não o contrário. Mais do que Bush, parece ser Barack Obama a alimentar a ilusão de que pode impor o “nosso modelo” aos países árabes. Vamos ver.

A democracia não se resume ao modo como se escolhe o governante. Sem eleição, é certo, o que se tem é ditadura. Mas não basta haver eleições para que o regime seja democrático, como prova o Irã. A depender da natureza do jogo, as urnas podem ser apenas um dos instrumentos de uma tirania — e da pior delas: a que conta com o entusiasmo da maioria. Os Estados Unidos certamente erraram no apoio a ditadores que estariam lá para evitar o pior: o radicalismo islâmico. Obama decidiu corrigir esse erro com outro maior — o que não considero surpreendente: passou a considerar que o ódio profundo ao Ocidente, traduzido na superfície pelo ódio ao ditador de turno, interessa à democracia e à paz.

Para encerrar: como sempre, espero estar certo quando sou otimista, e errado, quando pessimista.

Retomo

Esse texto é de minha autoria. Foi escrito há quase cinco anos, no dia 19 de julho de 2012.
Sim, hoje até mais do que antes, sei o peso que pode representar ver um pouco adiante da manada.
Está tudo ali: o erro dos EUA; a insurgência como obra dos terroristas; o “péssimo com Assad, mas pior sem ele”, o risco de o terrorismo sair do controle…
E praticamente não se falava ainda de Estado Islâmico.
Tomei pancada de todo lado. Foi uma das vezes em que paguei caro por expressar uma opinião que não coincidia com a maioria.
É preciso decidir se você quer mesmo ter a coragem de estar certo. O tempo pode ser seu único aliado.

Síria 4: O isolacionista Trump mudou? Brigará com Putin, o amigo?
O governo legal da Síria é o de Assad. E se russos decidirem socorrer o aliado? As duas maiores potências militares do planeta vão se engalfinhar na Síria?


Quem é Donald Trump? O isolacionista que não queria meter os EUA em guerras mundo afora ou um “propagador da democracia”, como se queria Barack Obama? Atenção! A visão que ganhou as eleições era a isolacionista. Os homens que compõem o primeiro escalão também.
Mas eis que ele resolveu dar uma guinada.
Vai entrar mesmo na guerra ou só mandou dar um susto em Bashar Al Assad, o que não traria nada de bom para os sírios? Muito pelo contrário.

Trump também se põe em rota de colisão com seu chapa, amigo de fé, irmão, camarada. Refiro-me a Vladimir Putin, presidente da Rússia, que é hoje o amparo verdadeiro que tem Assad. Outro esteio fundamental é o Irã.

Para todos os efeitos, o governo legal da Síria é o de Assad. E se os russos decidirem correr em socorro a seu aliado? As duas maiores potências militares do planeta vão se engalfinhar na Síria?
Mais: como vai se comportar o resto do mundo? É possível os EUA travar as duas guerras ao mesmo tempo? Contra Assad e contra os terroristas?

E não! Formalmente ao menos, ainda não é a guerra. Trato do assunto no próximo post.

Síria 5: Ataque tem cara de mera advertência; Assad vai continuar
Se assim for, eis o corolário: pior para o povo sírio, que ou está submetido à ditadura de Assad ou exposta à loucura dos grupamentos terroristas


Putin continuará a apoiar o regime de Assad. O Kremelin chamou a ação dos Estados Unidos de “agressão”. Se a Casa Branca decidir mesmo destituir Assad, Moscou vai sair em seu socorro. O que pode decorrer daí? Só Deus sabe.

A verdade é que a estratégia americana na Síria é um desastre permanente. Os EUA não tinham de ter se metido na desestabilização do governo do ditador Bashar Al Assad. Como não deveriam, por intermédio da Otan, atuar em parceria com os terroristas que depuseram outro tirano: Muamar Kadafi, da Líbia. Nos dois casos, conseguiriam foi multiplicar o poder dos terroristas.
Querem saber? O mais provável é que não aconteça nada muito além disso que se viu. Deu-se uma resposta ao ataque com armas químicas — os EUA acusam Assad — e pronto.

Se assim for, eis o corolário: pior para o povo sírio, que ou está submetido à ditadura de Assad ou exposta à loucura dos grupamentos terroristas. E há os que tentam fugir.

A menos que Assad seja vítima de um golpe militar, continuará por lá. Embora venha recuperando território, o fato é que, dadas as atuais forças que lutam no país, ele nem vence nem é vencido. As consequências se medem em terror e morte.

O que poderia mudar esse status? Uma incursão terrestre de EUA, Europa e aliados, com ocupação do território. Mas essa experiência também é traumática, não é? Sabe-se quando se entra, mas não quando se sai.
Síria 6: Os EUA têm de encerrar game sangrento e de agir em terra
É claro que o custo — inclusive o político — seria imenso. Mas é a consequência dos erros brutais cometidos por Obama e pelos aliados europeus

Leiam este texto:

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EUA e Europa precisam parar com seu videogame sangrento. Terão de fazer guerra de verdade, daquelas com sangue, suor e lágrimas, se quiserem forçar o recuo da besta que foi despertada nos desertos morais da Síria, do Iraque, da Líbia, com potencial para produzir ainda muita destruição e morte do Oriente Médio e centro-norte da África.

Depois dos atentados terroristas, a França lançou um bombardeio aéreo maciço contra bases do Estado Islâmico na Síria. Serão ineficazes. Uso de novo a palavra “besta”, sinônimo aqui do demônio e do mal absoluto. O jihadismo não tem limites. Não existe um conjunto de valores morais que sirva de referência para perfilar o inimigo. São capazes de qualquer coisa. Bombardeios dessa natureza acabam vitimando mulheres e crianças, tornadas escudos humanos.
É óbvio que isso já não basta. O terrorismo não pode ter um território — e hoje tem. As ditas potências ocidentais vão ter de sentar à mesa com a Rússia e organizar a incursão terrestre. É preciso perseguir e eliminar Abu Bakr al-Bagdadi, o chefe do Estado Islâmico, e toda a cadeia de comando do reino da barbárie.
É claro que o custo de uma operação como essa — inclusive o custo político — será imenso. Mas é a consequência dos erros brutais cometidos por Obama e pelos aliados europeus. É estupefaciente que o presidente americano e os entusiastas da dita Primavera Árabe nunca tenham se perguntado a origem do armamento pesado que os ditos defensores da “democracia” empregavam na Síria. Ou que haviam empregado antes na Líbia. Desde quando guerrilheiros, tenham eles a convicção que for, dispõem de caças, baterias antiaéreas, tanques?

De forma absolutamente irresponsável, estúpida, os EUA decidiram, ora vejam, armar os ditos rebeldes sírios — e, como já ficou evidente, armas e recursos acabaram caindo nas mãos dos terroristas, mais uma vez. A política errática — ou a política nenhuma! — de Obama abriu caminho para o protagonismo de Vladimir Putin na Síria, que entrou na guerra, mas não exatamente para atingir o Estado Islâmico, e sim os outros inimigos de Assad.

E os erros americanos se multiplicam porque, a esta altura, parece evidente que Assad não vai cair — quem ascenderia ao poder? — e que a redução de dano possível implicará fortalecer o ditador. A prioridade, agora, é recuperar o vasto território que caiu nas mãos do terrorismo.

É certo que isso, por si, não resolve a questão interna. A Europa viverá sob o clima de medo por muito tempo. E está mais exposta do que nunca a novos atentados terroristas. No período de acirramento dos conflitos, com ou sem a ação por terra, tal risco será brutalmente aumentado.

Atenção: o trânsito de cidadãos europeus, com origem árabe ou não, para a pátria do terror já era grande. E não há razão nenhuma para desconfiar da afirmação do Estado Islâmico de que, com a leva de imigrantes, seguiram os emissários da morte. Sim, a ameaça pode estar em toda parte, mas uma coisa é certa: sem tomar de volta o território que hoje ambiciona ser uma pátria, não há reversão possível da barbárie.

E isso terá de ser feito por terra. EUA e Europa terão de parar de brincar de videogame e joguinhos de guerra. Desta vez, tem de ser pra valer.
*
Retomo
Este texto foi publicado no dia 16 de novembro de 2015.

Como se nota, trato essencialmente da inutilidade dos ataques aéreos, do erro essencial de Obama, que foi armar os rebeldes sírios, da necessidade de EUA, Europa e aliados ou entrarem para valer na guerra ou deixarem que os iguais e entre si beligerantes se entendam.

Isso foi o que escrevi. A realidade está aí. Quase dois anos depois, Assad está mais forte, a mortandade e a brutalidade assombram o mundo, os erros de Obama se evidenciam, e Donald Trump agora decide seguir os passos de seu antípoda porque a sua, vamos dizer, “equação de marketing” já dava sinais de esclerose.
Os caipiras isolacionistas foram encostados por um tempo, e os falcões da intervenção mostraram as garras.
Para quê?

Síria 7: Atentado em Estocolmo – a besta do terror está à solta

Essa é a consequência da intervenção desastrada de EUA e Europa no Oriente Médio, em especial depois da chamada Primavera Árabe


Vocês já vão entender por que trato do atentado em Estocolmo dentro da chave “Síria”.
Um caminhão atropelou pedestres em Estocolmo. Saldo: ao menos quatro mortos e 15 feridos, 8 em estado grave. Mas a polícia não havia confirmado os números até havia pouco. Stefan Lofven, primeiro-ministro, não dourou a pílula: “A Suécia foi atacada.” O que isso quer dizer? Ataque terrorista!

O caminhão chocou-se contra uma loja, próxima à estação central de metrô. Incialmente, a polícia havia dito que o suspeito havia fugido. Depois começou a circular a informação de que uma pessoa, com possível ligação com o atentado, foi detida.

Sim, é claro que é atentado terrorista. Como se nota, ele segue um padrão.

Naquele texto que escrevi em 2015, apontei para a crescente insegurança da Europa. A besta está solta. E pode estar em qualquer lugar. No terrorismo moderno, pós-Estado Islâmico, não é necessário que os terroristas mantenham vínculos formais entre si.

Essa é a consequência da intervenção desastrada de EUA e Europa no Oriente Médio, em especial depois da chamada Primavera Árabe. Foram vender “democracia” com o auxílio de bombas, puxando o tapete de ditadores amigos e inimigos, mas que   mantinham a besta na casinha, e abriram a caixa de Pandora.

Não me confundam: os culpados sempre serão os terroristas. A questão é que é preciso lidar adequadamente com eles para evitar que o mal cresça em vez de ser extinto.
Todos os males do mundo escaparam. E a esperança, como sempre, ficou no fundo da caixa.

Síria 8: Obama atacou a Líbia também sem autorização do Congresso

Obama, o pior presidente que os EUA já tiveram na área de relações internacionais, é um dos grandes responsáveis por essa fragmentação do terror


Aqui e ali, leio algumas críticas à decisão de Donald Trump, que também não acho sábia, mas feitas por maus motivos. Ou por hipocrisia.

E qual é a crítica errada? “Ah, um ato de guerra precisa ter autorização do Congresso. É este que autoriza os EUA a partir para o pau.” É verdade! A menos que, bem…, se apele ao jeito Barack Obama de fazer as coisas. E, ora vejam, Donald Trump está seguindo os passos do antecessor.
Obama, o pior presidente que os EUA já tiveram na área de relações internacionais, é um dos grandes responsáveis por essa fragmentação do terror em grupos-célula e homens-célula. Foi ele, reitero, quem chutou o traseiro dos aliados em nome de supostos e altos valores humanistas.

O texto abaixo, meus caros, foi escrito há seis anos neste blog. No dia 26 de março de 2011.

Eu criticava justamente o truque dado por Obama para atacar a Líbia sem precisar de autorização do Congresso. E antevi que o país, com a queda da Kadafi, ficaria pior do que antes.
E está bem pior do que a minha expectativa do pior.
Leiam. Trump não inova. Apenas repete Obama.
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O presidente dos EUA. Barack Obama, discursou há pouco para explicar o envolvimento dos Estados Unidos na Líbia. Não tinha, obviamente, novidades a oferecer. Começou com uma imagem forte, que, levada a sério, creio, tem de passar pela democratização da Arábia Saudita… Lembrou que a Líbia fica entre a Tunísia e o Egito, países que se mobilizaram em favor da liberdade. Assim, disse os líbios se levantaram em defesa “de seus direitos essenciais. Caracterizou Kadafi como um tirano, o que é fato, lembrando que ele havia declarado que “não teria misericórdia com os adversários”. E emendou: “Nós sabíamos que, se nós esperássemos mais um dia, Bengahzi poderia sofrer um massacre que teria grande impacto na região e mancharia a consciência do mundo”.

Como se estivesse cumprindo uma promessa, destacou: “Eu disse que o papel da América seria limitado, que não enviaremos tropas terrestres para a Líbia, e nós estamos transferindo o comando para nossos aliados e parceiros”. Obama insistiu que o objetivo da ação sempre foi proteger civis, para “evitar um massacre”.

Obama respondia, na verdade, à acusação de que entrou numa guerra sem a autorização do Congresso, o que é uma questão de fato, não de gosto. E onde ele foi buscar a saída para seu ato ilegal? No humanismo! “Deixar de lado a responsabilidade da América como líder e, mais profundamente, nossas responsabilidades com outros seres humanos, nessas circunstâncias, seria trair quem nós somos (…). Algumas nações podem fechar os olhos diante das atrocidades em outros países. Os Estados Unidos da América são diferentes”.

Ok, tudo muito certo, tudo muito bem! Dissesse isso ao Congresso. E ele não disse. Mas Obama tem seu lado Apedeuta, não é? Pelo menos na moral. Recusou também a consideração daqueles que acham que os Estados Unidos devem sair por aí intervindo em tudo quanto é lugar, embora, ressalvou, esse cuidado não deva ser usado como desculpa para nunca agir. E sabem o que fez o Lula deles? Criticou a guerra do Iraque, ora essa: “Somos gratos aos extraordinários sacrifícios de nossas tropas e à determinação de nossos diplomatas. Estamos otimistas com o futuro do Iraque. Mas a mudança do regime [da ditadura para a democracia] custou oito anos, milhares de vidas de americanos e iraquianos e perto de um trilhão de dólares. Não é um custo com o qual estamos dispostos a arcar na Líbia”.

Não? Estão como será depois É o que se vai ver.

Insistindo na tese surrealista em curso — e duvido que boa parte dos congressistas se dê por satisfeita —, o presidente sustentou que o objetivo da missão não é depor Kadafi, mas lhe tirar as condições de continuar a massacrar o seu povo etc e tal. Pois é… Mas e se o tirano resistir? Obama não tem resposta para isso, claro — ou tem: como é uma guerra, eles vão atuar até o homem cair. Mas isso não pode ser dito com essa clareza.

Segundo Obama, os EUA “não ditam os destinos” da Líbia, mas “podem fazer a diferença em favor dos valores universais da democracia, como a liberdade e o direito que as pessoas têm de escolher seus líderes. E deu boas-vindas às mudanças da história, referindo-se, entende-se, aos movimentos de democratização nos países árabes.

E sobre ter entrado em guerra sem a autorização do Congresso? O Apedeuta ilustrado deixou claro que guerra era aquela que Bush fez no Iraque — um desastre, ele deixou claro — e que contou com o apoio do Capitólio; isso ele não disse, mas ficou subentendido. Obama estaria numa missão humanitária. Só faltou perguntar a deputados e senadores: “Por que vocês haveriam de se meter?”
De fato, nunca houve um presidente como Obama!

Notem bem: do ponto de vista de quem administra a Líbia, se um grupo de sanguinários suceder Kadafi, uma coisa será trocada pela outra. Se vier a democracia, será um ganho para os líbios. Eu, pessoalmente, não tenho dúvida de que, no médio prazo, o pé no traseiro do Congresso, dado por Obama, custará caro ao Ocidente. Eu não ligo de ser minoria também nesse caso. Eu nunca ligo!

Como diria o poeta Ascenso Ferreira, “para nada”. Só um pouco mais de morte e carne queimada.

Todos os artigos são de REINALDO de AZEVEDO
em 7 de abril de 2017, em seu Blog da Veja