REFLEXÕES
PEDAGÓGICAS (sem caras e bocas...), com comentários.
(Facebook,
26/02/2015)
1. NÃO CONFUNDAMOS
PEDAGOGIA com PEDAGOGICE.
A primeira é séria, e por isso é pouco conhecida. Seus
estudiosos são chamados de pedagogos ou especialistas em educação.
A segunda é largamente difundida por palpiteiros que,
incorretamente, recebem o nome de "pedagogos" ("pedagogos das
aspas") ou "especialistas em educação".
Estes últimos, também chamados tão-somente de
"especialistas", batem ponto em programas de televisão, rádio, e são
conhecidos também pela alcunha de "comentaristas": falam bem, são
articulados, até enganam, digo, (perdão), até convencem os leigos, mas provocam
danos às vezes irreversíveis em professores: mata-os de rir ou de raiva...
2. NA ESCOLA TEMOS O
BINÔMIO ALUNO-PROFESSOR.
Professor é professor; aluno é aluno __ e estamos
conversados, segundo a antiga e a moderna Pedagogia. O professor está na escola
para ensinar, e o aluno para aprender com o professor.
O fenômeno de que o aluno ensina ao professor é Pedagogice;
o fenômeno de professor aprender com o aluno é, pela ênfase dada, um ramo da
Pedagogice denominado Idiotice. Filosoficamente, a Idiotice se fundamenta em
princípios denominados "politicamente corretos", largamente
difundidos quase como um novo "evangelho." Dizem que os professores
que violarem estes princípios estão fadados à danação eterna. Apenas dizem...
O que foi dito acima aparentemente entra em contradição com
o que vou afirmar ( e tenho que reconhecer para ser honesto...): há momentos em
que o aluno ENSINA ao professor.
De fato, HÁ: andar de patins, soltar pipa, jogar bola de
gude, dançar funk ou samba, andar de bicicleta ou proteger-se de maneira eficaz
em casos de tiroteio... __ mas nada disso se insere na Pedagogia ou até mesmo
na pobre Pedagogice.
3. A AULA É UM
MOMENTO FUNDAMENTAL NA ESCOLA.
Toda aula tem três partes básicas: o início, o meio e o fim.
O INÍCIO se verifica com a chegada de alunos e professores à
sala; uma vez em sala, o professor procede à chamada. Durante a chamada,
momentos de descontração: alunos respondem "presente", "sem
dente", "turista" e até "morreu"; neste último caso
pode não ser uma gracinha, e o professor fica numa situação presidencial :
"eu não sabia"...
O MEIO é o momento de ministrar a matéria, importantíssimo.
Por vezes, este momento ímpar é interrompido pelos atrasados, pelo responsável
pra dar remedinho, por avisos sem importância e, raramente, para o serviço de
cafezinho; também ocorrem brigas, cenas de pugilato entre os discentes, sempre
solucionáveis, desde que elementos alienígenas à escola não metam o bedelho.
O FIM é um momento não raro de comunhão espiritual: alunos e
professores dizem de si para si, numa só voz(!), em silêncio: "graças a
Deus!". Os "pedagogos", isto é, os "pedagogos das
aspas", quando tomam conhecimento deste fenômeno, sentenciam: "esta
turma e este professor têm um problema de relacionamento".
Na verdade, é um falso problema: este momento, vamos dizer,
de purificação ou catarse (para usar um termo mais chique...), é tão-somente
estar doido para ir ao banheiro ou beber um copo d'água... No entanto, pior do
que a "sentença", os "pedagogos das aspas" marcam reuniões
tediosas para lerem trechos de Paulo Freire, ou, se os "pedagogos das
aspas" forem da antiga, distribuirem trechos de Artur da Távola, Michel
Quoist ou Saint-Éxupery...
4. CONSELHO DE CLASSE
é UM MOMENTO SOLENE.
O Conselho de Classe é um momento tão solene, mas TÃO
SOLENE, que dele devem participar SOMENTE professores. A Pedagogice discorda__
azar o dela!
Em lugar da participação de alunos, responsáveis, papagaio,
periquito e cachorro, e gato também, o tempo seria mais sabiamente utilizado
pelos professores.
Naquele momento, o "olho clínico" do professor
deve se aguçar: é o momento de ver o que os alunos aprenderam, o que deixaram
de aprender, o que poderão aprender, revisando, se for o caso, objetivos
previamente fixados. Deste modo, ocioso dizer que o aluno que vai bem ou muito
bem não deve ser objeto de discussão. Usei o termo da Medicina
"clínico", e de propósito: médico não socorre a quem está bem ou
muito bem, mas àqueles que estão mal ou muito mal...
É o cúmulo transformar uma reunião de conselho de classe num
momento tedioso de discutir aluno por aluno, bons e ruins, um por um, de cada
turma. A linguagem popular resume tudo: "um saco"! Não admira que o
professor converse, fale ao celular, vá comer um bicoitinho, tome um cafezinho,
demonstrando visivelmente cara de enfado... e imensa vontade de meter o pé.
Não é admissível também, justamente ali, lançar as notas ou,
pior, nem lançar, estar sem nada, nada, dando a entender de que o COC é uma
mera reunião burocrática. NÃO É ! NÃO É MESMO !
O foco do COC é avaliar o aluno, avaliar-se a si mesmo, e
combinar esforços para retirar o educando de um futuro fracasso.
O COC é um momento da escola, mas às vezes recebe a visita
de estranhos à escola. Sempre recebê-los cordialmente, mas deixando claro, de
forma sutil e delicada, qual o lugar do estranho ali... De preferência, apenas
de observador: quem dá o tom da reunião é o corpo docente da escola...
O ÚLTIMO COC do ano, o decisivo, mais do que nunca é solene
e crucial. É de bom alvitre que o professor tenha opinião formada, não pode
estar despreparado, AINDA ( por Deus!) corrigindo provas... É até indecente...
Trata-se da vida dos outros, de seus alunos, gente, filho de gente como o
professor, que certamente não gostaria de ser prejudicado pela negligência
alheia.
Há casos em que o aluno se sai bem em todas as disciplinas,
menos na sua. Você PODE REPROVAR? Pode. Mas... DEVE? A resposta não está em
nenhum manual de Pedagogia. Eu tenho (tinha) uma: quando acontecia, ficando o
aluno pendurado somente na minha, EU O APROVAVA! Por quê? Porque se estabelecia
uma dúvida e, na dúvida, aplicava eu o velho princípio: "in dubio pro
reo", "na dúvida, absolva-se o réu". Aprovado...
(Casos assim nunca me deixaram mossa, pois prefiro errar
como gigante a acertar como anão).
5. O ALUNO AVALIA o
PROFESSOR
Embora a Pedagogice afirme que o professor deve aprender com
o aluno (argh!), e a Pedagogia renegue, o aluno AVALIA o professor...
O seu PIOR aluno sabe se você é um professor bom ou um
professor ruim. Não é por causa de sua roupa, sorriso, sapato, bolsa, óculos ou
perfume; não é por causa de suas broncas ou feiura, de sua simpatia ou
antipatia __ mas por causa de seu desempenho
de levá-lo a aprender.
Há professores que entram em sala e dão aula__ o tempo todo;
raramente param para conversar fiado, como a saúde do gato ou as gracinhas do
filho recém-nascido. Estes professores entram, o aluno já sabe: matéria...
Outros entram e falam de tudo, da esposa, do filhinho, do cachorrinho, do time,
mas aula que é bom__ NADA. Estes, os alunos acham uma ótima PESSOA, mas como
PROFESSOR é um m****... Estes "conversadores" nunca ou quase nunca
terão problema de relacionamento, MAS dificilmente causarão boa impressão__ no
futuro...
6. PROVA NÃO É
CHARADA
Prova é para verificar a aprendizagem do aluno. Simples e
cristalino assim. Não é um momento casa-grande e senzala. Através da prova, o
professor perceberá o que o aluno aprendeu ou não, devendo ficar alerta para
avançar ou recuar no que foi planejado. É ruim quando a turma é pura
hemorragia, isto é, toda no vermelho: o professor deve fazer tudo o que puder
para estancar ... o "sangue".
Sabemos que muitos alunos não querem nada. Mas a
responsabilidade do professor continua... Esqueletos do ofício...
Pelo que foi dito, a prova não pode ser uma charada. Escola
não é "Domingão do Faustão" ou "Programa do Sílvio
Santos",onde os concorrentes são "derrubados" , havendo apenas
um vitorioso. A missão do professor é "levantar" os alunos,e não
dar-lhes sistemáticas rasteiras, achando divertidas "aquelas antas".
Aluno é aluno, professor é professor; se o professor der uma de
"aluno" não querendo nada, não cumprindo o que lhe cabe, o professor
também corre o risco de ser uma "anta" muito "divertida"...
7. PROFESSORES e
"PROFESSORES"; PEDAGOGOS e "PEDAGOGOS".
Na escrita, as aspas distinguem os profissionais
falsificados dos profissionais legítimos. Os primeiros, se mercadorias fossem,
viriam da China ou Paraguai, por contrabando, cópias até bem feitas, mas que
logo, logo se mostram material da pior qualidade...
Professores e pedagogos, ambos sem aspas, estão sempre
estudando, só parando no último suspiro. Geralmente são humildes, isto é, não
são acometidos de soberba, aquela soberba típica dos visivelmente inseguros e
idiotas. Sabem muito, conhecem o assunto, fazem um trabalho de qualidade; têm
ética; não falam besteira; e estudam, e estudam, a ponto de se acharem
ignorantes que precisam aprender mais e mais e mais... Percebem quando as
"novidades" são antigas, e caem na gargalhada e acabam sendo mal
vistos... Não se deslumbram facilmente, e por isso são chamados às vezes de
"chatos".
Professores e pedagogos, ambos sem aspas, têm algo em comum:
a sala de aula. A sala de aula é que ensina a ser professor e pedagogo.
Muita gente nunca entrou ou pouco entrou numa sala de aula,
e têm a audácia de darem palpites em educação: sabem de nada, mas por cortesia
nós os escutamos com siso; quando nos dão as costas e vão embora, não aguentamos:
caímos na gargalhada...
==================================================
BIBLIOGRAFIA:
Santos, Jorge L.da S.: __ Quarenta e Um anos de Magistério;
s/d; s/ed.; só na memória...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fique à vontade para comentar...