quarta-feira, 11 de março de 2015


REFLEXÕES PEDAGÓGICAS (sem caras e bocas...), com comentários.
(Facebook, 26/02/2015)

1. NÃO CONFUNDAMOS PEDAGOGIA com PEDAGOGICE.

A primeira é séria, e por isso é pouco conhecida. Seus estudiosos são chamados de pedagogos ou especialistas em educação.

A segunda é largamente difundida por palpiteiros que, incorretamente, recebem o nome de "pedagogos" ("pedagogos das aspas") ou "especialistas em educação".

Estes últimos, também chamados tão-somente de "especialistas", batem ponto em programas de televisão, rádio, e são conhecidos também pela alcunha de "comentaristas": falam bem, são articulados, até enganam, digo, (perdão), até convencem os leigos, mas provocam danos às vezes irreversíveis em professores: mata-os de rir ou de raiva...

2. NA ESCOLA TEMOS O BINÔMIO ALUNO-PROFESSOR.

Professor é professor; aluno é aluno __ e estamos conversados, segundo a antiga e a moderna Pedagogia. O professor está na escola para ensinar, e o aluno para aprender com o professor.

O fenômeno de que o aluno ensina ao professor é Pedagogice; o fenômeno de professor aprender com o aluno é, pela ênfase dada, um ramo da Pedagogice denominado Idiotice. Filosoficamente, a Idiotice se fundamenta em princípios denominados "politicamente corretos", largamente difundidos quase como um novo "evangelho." Dizem que os professores que violarem estes princípios estão fadados à danação eterna. Apenas dizem...
O que foi dito acima aparentemente entra em contradição com o que vou afirmar ( e tenho que reconhecer para ser honesto...): há momentos em que o aluno ENSINA ao professor.

De fato, HÁ: andar de patins, soltar pipa, jogar bola de gude, dançar funk ou samba, andar de bicicleta ou proteger-se de maneira eficaz em casos de tiroteio... __ mas nada disso se insere na Pedagogia ou até mesmo na pobre Pedagogice.

3. A AULA É UM MOMENTO FUNDAMENTAL NA ESCOLA.

Toda aula tem três partes básicas: o início, o meio e o fim.

O INÍCIO se verifica com a chegada de alunos e professores à sala; uma vez em sala, o professor procede à chamada. Durante a chamada, momentos de descontração: alunos respondem "presente", "sem dente", "turista" e até "morreu"; neste último caso pode não ser uma gracinha, e o professor fica numa situação presidencial : "eu não sabia"...

O MEIO é o momento de ministrar a matéria, importantíssimo. Por vezes, este momento ímpar é interrompido pelos atrasados, pelo responsável pra dar remedinho, por avisos sem importância e, raramente, para o serviço de cafezinho; também ocorrem brigas, cenas de pugilato entre os discentes, sempre solucionáveis, desde que elementos alienígenas à escola não metam o bedelho.

O FIM é um momento não raro de comunhão espiritual: alunos e professores dizem de si para si, numa só voz(!), em silêncio: "graças a Deus!". Os "pedagogos", isto é, os "pedagogos das aspas", quando tomam conhecimento deste fenômeno, sentenciam: "esta turma e este professor têm um problema de relacionamento".

Na verdade, é um falso problema: este momento, vamos dizer, de purificação ou catarse (para usar um termo mais chique...), é tão-somente estar doido para ir ao banheiro ou beber um copo d'água... No entanto, pior do que a "sentença", os "pedagogos das aspas" marcam reuniões tediosas para lerem trechos de Paulo Freire, ou, se os "pedagogos das aspas" forem da antiga, distribuirem trechos de Artur da Távola, Michel Quoist ou Saint-Éxupery...

4. CONSELHO DE CLASSE é UM MOMENTO SOLENE.

O Conselho de Classe é um momento tão solene, mas TÃO SOLENE, que dele devem participar SOMENTE professores. A Pedagogice discorda__ azar o dela!

Em lugar da participação de alunos, responsáveis, papagaio, periquito e cachorro, e gato também, o tempo seria mais sabiamente utilizado pelos professores.

Naquele momento, o "olho clínico" do professor deve se aguçar: é o momento de ver o que os alunos aprenderam, o que deixaram de aprender, o que poderão aprender, revisando, se for o caso, objetivos previamente fixados. Deste modo, ocioso dizer que o aluno que vai bem ou muito bem não deve ser objeto de discussão. Usei o termo da Medicina "clínico", e de propósito: médico não socorre a quem está bem ou muito bem, mas àqueles que estão mal ou muito mal...

É o cúmulo transformar uma reunião de conselho de classe num momento tedioso de discutir aluno por aluno, bons e ruins, um por um, de cada turma. A linguagem popular resume tudo: "um saco"! Não admira que o professor converse, fale ao celular, vá comer um bicoitinho, tome um cafezinho, demonstrando visivelmente cara de enfado... e imensa vontade de meter o pé.

Não é admissível também, justamente ali, lançar as notas ou, pior, nem lançar, estar sem nada, nada, dando a entender de que o COC é uma mera reunião burocrática. NÃO É ! NÃO É MESMO !

O foco do COC é avaliar o aluno, avaliar-se a si mesmo, e combinar esforços para retirar o educando de um futuro fracasso.

O COC é um momento da escola, mas às vezes recebe a visita de estranhos à escola. Sempre recebê-los cordialmente, mas deixando claro, de forma sutil e delicada, qual o lugar do estranho ali... De preferência, apenas de observador: quem dá o tom da reunião é o corpo docente da escola...

O ÚLTIMO COC do ano, o decisivo, mais do que nunca é solene e crucial. É de bom alvitre que o professor tenha opinião formada, não pode estar despreparado, AINDA ( por Deus!) corrigindo provas... É até indecente... Trata-se da vida dos outros, de seus alunos, gente, filho de gente como o professor, que certamente não gostaria de ser prejudicado pela negligência alheia.

Há casos em que o aluno se sai bem em todas as disciplinas, menos na sua. Você PODE REPROVAR? Pode. Mas... DEVE? A resposta não está em nenhum manual de Pedagogia. Eu tenho (tinha) uma: quando acontecia, ficando o aluno pendurado somente na minha, EU O APROVAVA! Por quê? Porque se estabelecia uma dúvida e, na dúvida, aplicava eu o velho princípio: "in dubio pro reo", "na dúvida, absolva-se o réu". Aprovado...

(Casos assim nunca me deixaram mossa, pois prefiro errar como gigante a acertar como anão).

5. O ALUNO AVALIA o PROFESSOR

Embora a Pedagogice afirme que o professor deve aprender com o aluno (argh!), e a Pedagogia renegue, o aluno AVALIA o professor...
O seu PIOR aluno sabe se você é um professor bom ou um professor ruim. Não é por causa de sua roupa, sorriso, sapato, bolsa, óculos ou perfume; não é por causa de suas broncas ou feiura, de sua simpatia ou antipatia __ mas por causa de seu desempenho
de levá-lo a aprender.

Há professores que entram em sala e dão aula__ o tempo todo; raramente param para conversar fiado, como a saúde do gato ou as gracinhas do filho recém-nascido. Estes professores entram, o aluno já sabe: matéria... Outros entram e falam de tudo, da esposa, do filhinho, do cachorrinho, do time, mas aula que é bom__ NADA. Estes, os alunos acham uma ótima PESSOA, mas como PROFESSOR é um m****... Estes "conversadores" nunca ou quase nunca terão problema de relacionamento, MAS dificilmente causarão boa impressão__ no futuro...

6. PROVA NÃO É CHARADA

Prova é para verificar a aprendizagem do aluno. Simples e cristalino assim. Não é um momento casa-grande e senzala. Através da prova, o professor perceberá o que o aluno aprendeu ou não, devendo ficar alerta para avançar ou recuar no que foi planejado. É ruim quando a turma é pura hemorragia, isto é, toda no vermelho: o professor deve fazer tudo o que puder para estancar ... o "sangue".

Sabemos que muitos alunos não querem nada. Mas a responsabilidade do professor continua... Esqueletos do ofício...

Pelo que foi dito, a prova não pode ser uma charada. Escola não é "Domingão do Faustão" ou "Programa do Sílvio Santos",onde os concorrentes são "derrubados" , havendo apenas um vitorioso. A missão do professor é "levantar" os alunos,e não dar-lhes sistemáticas rasteiras, achando divertidas "aquelas antas". Aluno é aluno, professor é professor; se o professor der uma de "aluno" não querendo nada, não cumprindo o que lhe cabe, o professor também corre o risco de ser uma "anta" muito "divertida"...

7. PROFESSORES e "PROFESSORES"; PEDAGOGOS e "PEDAGOGOS".

Na escrita, as aspas distinguem os profissionais falsificados dos profissionais legítimos. Os primeiros, se mercadorias fossem, viriam da China ou Paraguai, por contrabando, cópias até bem feitas, mas que logo, logo se mostram material da pior qualidade...

Professores e pedagogos, ambos sem aspas, estão sempre estudando, só parando no último suspiro. Geralmente são humildes, isto é, não são acometidos de soberba, aquela soberba típica dos visivelmente inseguros e idiotas. Sabem muito, conhecem o assunto, fazem um trabalho de qualidade; têm ética; não falam besteira; e estudam, e estudam, a ponto de se acharem ignorantes que precisam aprender mais e mais e mais... Percebem quando as "novidades" são antigas, e caem na gargalhada e acabam sendo mal vistos... Não se deslumbram facilmente, e por isso são chamados às vezes de "chatos".

Professores e pedagogos, ambos sem aspas, têm algo em comum: a sala de aula. A sala de aula é que ensina a ser professor e pedagogo.

Muita gente nunca entrou ou pouco entrou numa sala de aula, e têm a audácia de darem palpites em educação: sabem de nada, mas por cortesia nós os escutamos com siso; quando nos dão as costas e vão embora, não aguentamos: caímos na gargalhada...
==================================================
BIBLIOGRAFIA:

Santos, Jorge L.da S.: __ Quarenta e Um anos de Magistério; s/d; s/ed.; só na memória...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade para comentar...