segunda-feira, 20 de novembro de 2017

DIA da CONSCIÊNCIA NEGRA - 20 de novembro.


DIA da CONSCIÊNCIA NEGRA - 20  de novembro.




De uma maneira simplista mas nem tanto errada, diríamos que o fundamento do racismo antinegro no Brasil é a quantidade de melanina que temos no corpo. Pra início de conversa, TODOS NÓS SERES HUMANOS possuímos melanina, alguns mais, outros menos. Os únicos seres humanos que não a possuem são os ALBINOS.

Se o racismo pudesse ser racionalizado, apontando o fator biológico, seria um assunto resolvido e, hoje, inexistente: bastaria mostrar a bobagem de invocar superioridade ou pespegar inferioridade pura e simplesmente para a pessoa com mais ou menos melanina.

Mas a história é outra.

Antes disso, devemos entender que a ESCRAVIDÃO é tão-somente ("tão-somente" é maneira de dizer) é um ser humano privar outro de sua liberdade pessoal e submetê-lo incondicionalmente a outro. As circunstâncias que levam a isso é a força do que domina. Neste caso, é perfeitamente coerente dizer que brancos escravizam negros, índios e asiásticos; negros escravizam brancos; asiáticos escravizam brancos e negros. Tudo dependerá das circunstâncias históricas.

Os romanos escravizaram brancos, os gregos e os gauleses (brancos louros de olhos azuis) e também povos africanos de pele mais escura. Os negros africanos escravizaram brancos da costa mediterrânea do século XVI ao século XVIII. Negros escravizaram negros na África __ e muitas vezes vendendo-os aos brancos que os levavam como carga para as Américas. Japoneses escravizaram chineses; chineses escravizaram outros povos asiáticos.

Portanto, a condição de escravo não é parte do DNA de uma raça. Poderíamos dizer de maneira bem didática: alguém se torna escravo se der o azar de ser conquistado por alguém da mesma raça ou de raça diferente, e o conquistador simplesmente ignorar sua condição humana e, pior, submetê-la a castigos e humilhações e lucrar com isso.

Todo este preâmbulo é para mostrar o quanto foi grave a escravidão dos negros africanos nas Américas e a consequente construção da discriminação__ que vem até hoje.

No caso brasileiro, os negros vieram para cá à força para servir de mão-de-obra nas plantações e outros serviços. Depois de mais de três séculos de submissão, de degradação ostensiva, construiram-se ideias de uma superioridade sobre os negros. Quem eram os negros? Uma coisa, uma mercadoria. Ora, se se considera coisa, bem, coisa é "coisa". Se é "coisa", por que reconhecê-lo como um igual aos demais seres humanos dominadores? Ora, esta "coisificação" acabou ganhando livre curso, a ponto de ex-escravos ou negros já nascidos livres escravizarem, sem a menor cerimônia, outros negros. Quando falo "sem a menor cerimônia" é porque se seguia à lógica da sociedade. Não há razão para achar que um negro rico fosse "solidário" com o negro que trabalhava pra ele como "ferramenta" para produzir fortuna para o seu senhor também negro. E os negros ricos não escravizavam brancos ou "brancos", porque a sociedade repudiaria, mas, com certeza, não dariam um tratamento respeitoso a seus empregados "brancos" ou brancos.

A lógica sórdida da escravidão levou o Brasil a escravizar o índio (apesar de defendido pelos padres) e até mesmo imigrantes brancos (século XIX), embora, neste último caso, não de maneira ostensiva.

Terminada a escravidão, o que sobrou para os negros? Tirando o chicote, o tronco, a boqueira, a gargalheira, as correntes só lhes restou a cor da pele, a pobreza, a miséria e o abandono. (Nos Estados Unidos foi a mesma coisa...). Aquele antes escravo agora era um homem livre, mas não seria "igual" aos demais, já que teria uma origem degradante perante os demais. Vai daí que considerá-lo um "inferior", "um suspeito", "uma coisa" __ não admira, é triste e sórdido, mas não admira.

Todas as manifestações discriminatórias têm sua origem aí. Há um passado asqueroso para "justificá-la". Tudo isso é englobado num nome: RACISMO.

É contra esta estupidez, esta irracionalidade que se criou e se justifica a comemoração do DIA da CONSCIÊNCIA NEGRA.

Diferentemente dos Estados Unidos ou da África do Sul, o racismo no Brasil não foi institucionalizado, isto é , nunca se fizeram leis discriminando tratamento diferente para negros e não-negros. Se em ambos os países eram leis, aqui o racismo se manifesta de maneira individual, a saber, há pessoas suficientemente estúpidas para se julgarem superiores por não ter a cor preta na pele: isto vale tanto para um branco de olho azul e cabelo liso como para um mulato nordestino pobre e mais claro. (Certa vez , ainda adolescente, ao entrar num prédio de Botafogo, percebi que o porteiro me indicou o elevador de serviço...).

O que significa não ter havido no Brasil a institucionalização do racismo e ter havido nos Estados Unidos e na África? Resposta: NADA, exceto que ambos os casos são asquerosos. Muitos dizem de maneira primária que nos Estados Unidos é "melhor" do que no Brasil, onde o racismo se manifesta veladamente. Bobagem. Aberta ou veladamente, ambos são sentimentos nojentos.

Por outro lado, não podemos esconder um racismo às avessas, que dizer, negros odiando brancos, lá nos States e aqui no Brasil. Muitos "justificam": "ora, se eles foram alvos de ódio e discriminação, é "natural" que discriminem também." Não é 'natural" nem "justificável", no máximo "explicável", o que, para uma cabeça pensante, não significa abonar a conduta. Antinegro ou antibranco, racismo é deplorável, sobretudo para quem o sofre.

Também é explicável que negros,  na sua luta contra o racismo, exagerem suas qualidades e sugiram uma "superioridade moral". Dizendo de outra maneira: como foram historicamente vilependiados de todas as formas, os negros não se enxergarem com os piores defeitos que a História aponta nos brancos. Então, percebe-se, pelas manifestações, que o mundo seria melhor se governados por negros do que por brancos, que os negros são "puros" (só mesmo entre aspas...) , e de que a História seria outra se fossem dominantes. Bem, para demonstrar isso, é só dar uma olhada na África, onde negros governam para negros e os cidadãos negros não são objeto do mais elementar respeito, a menos que as ditaduras corruptas e cruéis da África sejam decentes em contraposição às ditaduras corruptas e crueis dirigidas por brancos... Ocioso dizer que é um tolice sem tamanho. Brancos e negros são seres humanos , e disso ninguém duvida; se assim é, pretos e brancos são capazes das ações mais sublimes como das ações mais sórdidas. Outra coisa: culpar os brancos colonizadores pela crueldade e corrupção na África Negra é outra bobagem, pois, como já disse antes, se negros e brancos são seres humanos, os negros são capazes dos mesmos comportamentos que envergonham a história da Europa branca... Dizendo de outra maneira: os negros africanos são meros robôs do comportamento dos brancos europeus ou são capazes das mesmas iniquidades?

Portanto, o Dia da Consciência Negra é justificável. É uma luta de pessoas de cor contra a discriminação, a violência, o vilipêndio moral que ainda são submetidos, apesar das evidências de que tudo isso é retumbante estupidez que degrada o lado bom de nossa humanidade.

Jorge Santos
20/11/2017
Professor de História aposentado.

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