BOLSONARO e
os MILITARES – uma análise
O Fator Militar 1: Alto Comando se preocupa com radicalização e nunca se sentiu representando por discurso de Bolsonaro, visto como extremista
Já tratei deste assunto e volto a ele. O alto comando das
Forças Armadas está preocupado com o clina de radicalização do país e já fez
essa preocupação chegar a Jair Bolsonaro (PSL), provável vitorioso na disputa
eleitoral do próximo dia 28. A avaliação que se faz intramuros não poupa
críticas a ninguém, tampouco ao próprio Bolsonaro, que nunca foi considerado um
exemplo de moderação e de retórica elevada. Não são poucos os que acham que, ao
longo de sua história, fez uma defesa das Forças Armadas que não era do
interesse da própria instituição. Enquanto a palavra de ordem era investir na
profissionalização dos homens de farda, ele insistia na ideologização para
ganhar votos. Na verdade, nunca se apostou que pudesse chegar tão longe. Ou,
nas palavras de um crítico de uniforme reluzente, aquilo “servia à defesa de
interesses corporativos da reserva; não se imaginava que pudesse ser um projeto
de poder”. Os que respondem pelo destino das três Forças não se sentem
representados e temem mesmo ser confundidos como fiadores do governo. E, como
se alerta por lá, “nosso papel é o que está previsto no Artigo 142 da
Constituição, não importa o presidente”. Ou ainda: “Atuamos para garantir a
independência dos Poderes e de forma subsidiária para assegurar a lei e a
ordem; não servimos para segurar presidentes em seus cargos ou para
endossá-los”.
O Fator Militar 2: Críticas se estendem ao PT:
“Bolsonaro é obra dos petistas, não de qualquer intenção das Forças Armadas de
fazer política”
As críticas, por óbvio, não poupam o PT. Nas palavras de um
analista ferino, “Bolsonaro é obra dos petistas, não de qualquer intenção das
Forças Armadas de participar da política, como andam dizendo por aí. Não temos
nenhuma! As Três Forças têm canais institucionais de atuação e diálogo com os
Poderes da República para fazer chegar suas demandas de caráter estritamente
técnico; não precisamos de um presidente da República que nos represente”. A
ideia, vocalizada pelo presidenciável petista Fernando Haddad, de que as
eleições no Brasil estariam sob uma espécie de tutela da linha-dura militar é,
nas palavras desse interlocutor, “uma bobagem”. E acrescenta: “Inexiste essa
articulação; o fato de Bolsonaro estar cercado de generais da reserva que o
auxiliam em seu programa não encontra amparo nas Forças. Até diria que o mais
conveniente seria que não fosse assim”.
O Fator Militar 3: “Bolsonaro só passou a ser levado a
sério nos quarteis, que nada decidem, quando PT atrelou sucessão à vontade de
Lula
Segundo essa análise, quando o PT decidiu atrelar a disputa
eleitoral às decisões de Lula, que estava preso, só então Bolsonaro passou a
ser uma opção levada a sério também nos quartéis, sempre destacando que “os
militares não elegem ninguém porque não têm votos para isso”. E ele desafia: “O
candidato petista fez essa acusação, mas duvido que consiga apontar alguma
interferência que tenha provocado viés na disputa”. Lembro ao interlocutor a
frase do general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército, que afirmou o
seguinte em entrevista ao Estadão no dia 9 de setembro: “O pior cenário é
termos alguém sub judice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da Ficha
Limpa, tirando a legitimidade, dificultando a estabilidade e a governabilidade
do futuro governo e dividindo ainda mais a sociedade brasileira. A Lei da Ficha
Limpa se aplica a todos”. Pergunto se o militar não estava se referindo a Lula
e se aquilo não poderia caracterizar uma espécie de veto.
O Fator Militar 4: “Fosse uma guerra, parece que Ciro
era a melhor escolha estratégica da esquerda, mas o entendimento do PT foi
outro”
E ouço como resposta: “É claro que se referia a Lula. Mas
não há veto nenhum. O general deixou claro na entrevista que as Forças Armadas
se ateriam a seu papel constitucional.” E acrescenta: “Quantos votos aquela
entrevista tirou do PT ou deu a Bolsonaro? A fala até serviu de combustível
para o proselitismo das esquerdas”. Segundo a avaliação do alto comando
militar, os petistas subestimaram o que há muito parecia claro e era matéria
corrente em análises feitas intramuros: a rejeição ao petismo era grande,
especialmente nas regiões Sudeste e Sul. Tanto é assim que, num dado momento,
os próprios militares chegaram a vislumbrar a hipótese de que o PT poderia
optar por uma aliança com Ciro Gomes, como defendia, aliás, Jaques Wagner, que
chegou a ser ministro da Defesa no governo Dilma. Mas não aconteceu. E
acrescenta o interlocutor: “À medida que o PT esticou a corda até o limite,
insistindo numa candidatura que sabia impossível, a alternativa Bolsonaro cresceu.
Parece também que eles fizeram uma aposta errada ao imaginar que o candidato
Geraldo Alckmin acabaria tomando o lugar de Bolsonaro.” Segundo essa análise, o
partido desprezou o enraizamento da candidatura do capitão reformado, que
passou a ser visto, então, como a única figura com pulso para enfrentar Lula e
seu partido”. Com alguma ironia, acrescenta: “Nós não podemos responder pelos
erros cometidos pelo PT. Fosse uma guerra, parece que Ciro era a melhor escolha
estratégica. Mas o entendimento dos petistas foi outro”.
O Fator Militar 5: Discurso da Paulista feito por
Bolsonaro foi visto como ‘irresponsável’. Ou: As Forças Armadas não estarão no
poder
Como se nota, os militares
estavam com uma leitura mais realista do processo político do que o próprio
petismo. E, à diferença do que pensam os simples de espírito, não estão
exatamente tranquilos com o que está por vir. Uma coisa é dada como certa: as
reformas não serão indolores e tenderão a gerar reações. É por isso que já
chegaram a Bolsonaro mensagens deixando claro ser preciso baixar a temperatura
do confronto político. Os militares temem sobretudo os espíritos exaltados que
não contam necessariamente com o endosso das forças políticas em nome das quais
atuam. O discurso do candidato do PSL a seus militantes na Avenida Paulista foi
considerado irresponsável e preocupante pela cúpula militar e se espera do
candidato uma mensagem que acene com a pacificação do país. Até porque se
considera um dado da realidade que a reforma da Previdência, qualquer que seja
ela, vai gerar reações negativas na sociedade. Os militares querem que fique
caracterizado, e disto Bolsonaro também sabe, que será um governo de civis,
ainda que integrado por alguns militares da reserva, a começar do presidente da
República. Ou no resumo do interlocutor: “Não importa a qualidade do governo,
as Forças Armadas não estarão em julgamento porque não estaremos no poder”.
By Reinaldo
Azevedo, 24/10/2018
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