quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
SERÁ QUE VAI DAR PRAIA?
O recém-nomeado PROFESSOR MÁRCIO DA COSTA para dirigir A ESCOLA PAULO FREIRE ( (DO, 18/01/2018) esteve envolvido numa polêmica com a UFRJ .
Ele escreveu um artigo em O GLOBO (25/09/2016) criticando as greves em universidades públicas.
A reação da Faculdade de Educação foi imediata e dura, referindo-se ao conteúdo do artigo como "crítica-destrutiva".
Bem, é claro que tenho opinião formada sobre a polêmica, e vou dizê-la sem rebuços.
O professor MÁRCIO bateu duro num nervo sensível que muita gente se recusa a admitir: a facilidade de se fazer uma greve numa unidade pública é grande, sem que haja uma punição, como, por exemplo, desconto do salário. O direito de greve é sagrado e histórico, mas facilidades como existem no Brasil são inigualáveis. Em nosso país se gestores públicos partirem para o confronto e suspenderem o ponto, é "batata" que uma liminar deferida pelo Poder Judiciário virá em socorro dos grevistas__ e continuarão normalmente recebendo seus salários na íntegra. Quisera eu estar sendo injusto e mentiroso... Como servidor público que sou, óbvio que acho "legal": posso não ir à praia mas posso ver bons filmes nos canais a cabo...
O reparo feito pela UFRJ pode ser verdadeiro (e até poderíamos concluir que o professor márcio exagerou), mas muito me chamou atenção o termo "crítica-destrutiva" e as justificativas de que as palavras do professor se inseririam no contexto de "liberalismo", "conservadorismo", "autoritarismo" etc.
O termo "crítica-destrutiva" revela, no mínimo, um vezo autoritário ou, traduzindo em palavras chulas "que p****** é essa de nos criticar?" até onde sei, nas democracias as críticas podem ser "extra muros" ou "intra muros"...
Moral da história: a UFRJ ficou furiosa com a crítica de um dos seus, mas não rebateu ou quis rebater o cerne da questão levantada pelo professor. ou seja, greves acabam em praia, e fingimos que não vemos...
Pergunta chata (e também levantada pelo professor): quem paga tudo isso?
JORGE LUIZ da SILVA SANTOS (JORGE O DA VIRIATO)
18/01/2018
Professor Aposentado
Abaixo as íntegras do artigo e da nota da Universidade.
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Será que vai dar praia?
Greves intermináveis com risco zero. Salário na conta e dois a três meses de trabalho a menos quase todos os anos recentes
POR MARCIO DA COSTA 25/09/2016 , JORNAL O GLOBO
Quinta, dia 22, algumas unidades da UFRJ suspenderam suas atividades em função de uma anunciada paralisação, convocada por entidades de funcionários. Na véspera, à tarde, instâncias oficiais já se adiantavam e oficializavam a suspensão do expediente. Não é inédito. Tornou-se natural com o passar dos anos. O que se segue é parte do que escrevi para meus pares.
É razoável que a instituição adote uma posição que, na prática, impõe uma greve a todos? Tem sido assim na UFRJ. Sindicatos adotam em seus fóruns uma paralisação. Quase instantaneamente, a burocracia responsável pela gestão da universidade incorpora tal decisão e antecipa seus efeitos decretando que os portões sejam cerrados. O Conselho Universitário já fez algo semelhante, suspendendo o calendário letivo. Assim, uma decisão de greve é convertida em estranho locaute, com a ação de autoridades que deveriam zelar pelo funcionamento institucional.
No caso da interrupção do calendário institucional, por mais de uma vez isso ocorreu em favor de movimentos que nem mesmo contavam com adesão expressiva, mas que foram tornados artificialmente “universais” por esse artifício de gestão. Na última greve isso assumiu um caráter mais severo, dado que, em unidades onde não havia adesão ao movimento, a manutenção do calendário foi proibida pelas autoridades universitárias.
A coisa funciona assim: uma assembleia de meia dúzia decide greve ou paralisação, a estrutura decisória transforma essa decisão quase clandestina em decreto institucional. Com isso, está assegurado o sucesso do movimento, “adesão” de 100%. Discursos revolucionários saúdam a coesão de classe, e a população paga pelas bravatas.
Frequentemente, quase ninguém sabe ao menos quais são as reivindicações do “movimento”. Eventualmente, em caso de grande adesão, o funcionamento poderia estar severamente comprometido, de tal forma que seria impossível ou pouco sensato manter as portas abertas. No entanto, nem se cogita testar.
Tal ocorre em meio à anomia que torna a lei, a separação público/privado, a preocupação com a coisa pública meras peças de retórica nesse universo paralelo em que vivemos nas universidades públicas. A predação do funcionamento institucional deriva de se haver aprendido na universidade que não há risco. Nenhum dos protagonistas paga o preço.
Como de hábito, a paralisação foi numa quinta-feira, convertendo-se em feriadão. O distinto público paga nosso salário, e vida segue, como se nada houvesse acontecido. A Viúva banca, e ninguém é chamado a prestar contas desses, digamos, feriados informais. Greves intermináveis ocorrem da mesma forma: risco zero. Salário na conta e dois a três meses de trabalho a menos quase todos os anos recentes.
Será esse um dos motivos porque parece crescer na população o sentimento de inveja/ódio pelo funcionalismo público? Aquele bando de gente que ganha mais, trabalha menos, não precisa prestar contas de nada e ainda vai lá quando quer? Quanto tempo durará essa festa? Alguém será responsabilizado?
Quinta feira deu praia.
Marcio da Costa é professor da Faculdade de Educação da UFRJ
Leia mais: https://oglobo.globo.com/opiniao/sera-que-vai-dar-praia-20171250#ixzz54WrRVXQm
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A Direção da Faculdade de Educação divulgou nota posicionando-se a respeito do artigo do professor Márcio da Costa, publicado no jornal O Globo no dia 25/9.
Leia a nota na íntegra:
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2016.
Posicionamento da Direção da Faculdade de Educação da UFRJ sobre artigo publicado no jornal O Globo em 25/9/2016, intitulado “Será que vai dar praia?”, do professor Márcio da Costa.
A Direção da Faculdade de Educação da UFRJ vem a público se manifestar a propósito do artigo “Será que vai dar praia?” do colega professor Marcio da Costa, publicado no jornal O Globo em 25/9/2016. Tais ideias parecem ter sido motivadas pela suspensão das atividades acadêmicas da Faculdade de Educação que têm lugar no campus da Praia Vermelha (e exclusivamente dessas) no dia 22 de setembro, decisão sobre a qual são necessários alguns esclarecimentos.
Como expressou em esfera externa à UFRJ opiniões crítico-destrutivas ao setor público, e agrediu toda uma comunidade de servidores públicos atribuindo-lhes a característica de trabalhadores negligentes, achamos por bem não nos calarmos, manifestando o nosso posicionamento como Direção da FE/UFRJ, como colegas e cidadãos que têm lutado com muito trabalho e dedicação por uma educação pública universal e de qualidade para todos.
A motivação desta resposta deriva principalmente dos seguintes aspectos:
o conteúdo deste artigo circulou no grupo de emails de professores e técnicos-administrativos da FE/UFRJ no dia 21/9. Entretanto, ao publicar o artigo em jornal de grande circulação, a imprecação do colega extrapolou os muros da universidade e não se trata mais apenas de "lavar nossa roupa suja em casa”;
a manifestação do professor não é um ato isolado e se faz em tempos sombrios, numa conjuntura de recrudescimento do conservadorismo, do ultraliberalismo, de emergência de discursos autoritários, de enfraquecimento da instituição democrática, de retrocesso das conquistas educacionais e de desmantelamento do setor público;
o que foi dito e escrito não representa nem de longe a complexidade das relações sociais do cotidiano acadêmico da FE e da UFRJ;
a nossa indignação se amplia pela responsabilidade da direção que envolve toda uma equipe comprometida com a gestão pública em meio às dificuldades e ameaças atuais;
o entendimento de que greve é um instrumento de luta suficientemente sério para ser tratado dessa forma. Desqualificar esse direito ou abusar de seu exercício são duas faces de uma mesma moeda: o descompromisso com o público e a negação de direitos sociais dos trabalhadores historicamente conquistados.
Vamos, pois, aos esclarecimentos.
No dia 21/9/2016, a Direção da FE/UFRJ foi comunicada sobre a adesão da maioria dos servidores da FE/UFRJ à paralisação nacional, aprovada pelo SINTUFRJ. A partir desta informação, procuramos nos preparar para o dia 22/9 junto aos diferentes setores dos quais dependemos, para o funcionamento com segurança. Tais procedimentos se fazem indispensáveis e requerem diferentes níveis de negociação dada a situação atual singular na qual se encontra a FE/UFRJ, devido aos espaços diversos e dispersos que ocupa, cujo acesso não depende diretamente de seu corpo administrativo.
Diante destas circunstâncias, a Direção da FE/UFRJ avaliou que seria melhor suspender as sua atividades administrativas e acadêmicas na Praia Vermelha no dia 22/9, comunicando tal decisão ao seu corpo acadêmico no dia anterior. Levamos ainda em conta as distâncias significativas que representam os deslocamentos de nossos estudantes e o risco de que eles os fizessem em vão.
Destacamos que essa foi uma medida pontual desta gestão, resultante de uma análise que considerou diferentes variáveis e que de forma alguma pode ou deve ser generalizada para toda a UFRJ.
Aliás, nesse mesmo dia, a UFRJ recebeu mais de três mil estudantes de ensino médio para conhecer a instituição e o CONSUNI se reuniu regularmente, discutindo um tema central para o futuro da universidade – a Assistência Estudantil. Vale sublinhar que as atividades da FE/UFRJ desenvolvidas em outros campi ocorreram normalmente. Do mesmo modo, iniciou-se ainda nesse mesmo dia, no IFCS, a 5ª Edição do ENSOC – Encontro Estadual de Ensino de Sociologia –, coordenado por professores da FE e com a participação da Direção dessa unidade na mesa da abertura.
Essas diversas atividades, entre tantas outras, demonstram o dinamismo cotidiano da UFRJ, reconhecida em recente avaliação nacional como a melhor universidade brasileira, com especial destaque para seus cursos de Pedagogia e Licenciaturas.
Esclarecemos também que sexta-feira, 23 de setembro, foi dia de expediente normal.
Carmen Teresa Gabriel
Rosana Heringer
Direção FE/UFRJ
https://ufrj.br/noticia/2016/09/28/nota-publica-da-faculdade-de-educacao
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2016.
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