domingo, 17 de janeiro de 2021

 

ARROGÂNCIA RUINOSA 

BY JAMIL CHADE, EL PAÍS, 17/01/2021

Vacina chega após arrogância e erros homéricos de uma diplomacia brasileira limitada


Brasil deixou de aderir a uma coalizão global pelas vacinas em abril, que daria prioridade aos brasileiros com vacinas. Em vez disso, optou por uma política que minava a confiança na Coronavac e investiu num pacote negacionista que explica o colapso de Manaus e a dor de milhares de famílias


JAMIL CHADE, 17/01/ 2021 - 18:39, EL PAÍS


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Diretoria da Anvisa aprovou uso emergencial das vacinas de Oxford e Coronavac.

Anvisa autoriza o uso emergencial das vacinas Coronavac e da AstraZeneca/Oxford contra a covid-19



Aqui jaz os restos conceituais da política externa do governo de Jair Bolsonaro, responsável por isolar o país do grupo das grandes democracias do mundo e destruir a reputação de uma nação. Na lápide da diplomacia do Brasil, essa bem poderia ser a descrição para quem um dia for visitar o memorial dedicado às ideias, projetos e políticas que não sobreviveram à pandemia.



Entre 2020 e 2021, o Brasil foi vítima de um vírus que desconhecia ideologia, a noção de soberania e zombava de fronteiras. Mas só nas últimas semanas, o Governo descobriu que o país está de joelhos diante de uma pandemia que ganha força. Descobriu que está sem imunizante, sem oxigênio, sem plano e sem alternativas. Nada disso, porém, é culpa exclusiva do Sars-Cov-2. Depois de ter politizado a origem do vírus, a máscara e tratamentos, o governo tomou a decisão deliberada de repetir esse roteiro com o imunizante.


A demora e indefinição para começar a vacinação não foram acidentes de última hora. Trata-se de o resultado dramático de decisões políticas adotadas ao longo de meses. O primeiro passo nesse longo processo foi o de não aderir inicialmente ao projeto de uma coordenação global. Em abril de 2020, a OMS iniciou a construção de um sistema que permitiria uma distribuição equitativa da vacina pelo mundo. Uma espécie de fundo de vacinas que permitiria que, uma vez autorizados os produtos, a coalizão garantiria a distribuição do imunizante para todos os países, atendendo inicialmente a 20% das populações de cada nação.


A ideia era simples: se for deixado às forças do mercado ou ao sistema internacional, os países emergentes e pobres poderiam ficar para o fim da fila na vacinação. Exemplos já existiam disso. Quando o H1N1 se abateu sobre o mundo, países ricos foram os primeiros a imunizar suas populações. Quando a vacina chegou aos países pobres, o surto já tinha terminado.


A Aids também trouxe uma história similar. Por anos, as economias mais pobres ficaram sem acesso aos tratamentos, enquanto o coquetel já era uma realidade nos EUA e Europa. Quando os remédios finalmente desembarcaram na África, os países mais pobres já somavam 9 milhões de mortes.



Na OMS, técnicos e diretores estavam convencidos de que, na atual pandemia, esses erros não poderiam se repetir. Mas a ordem no Itamaraty era a de não permitir que, durante a pandemia, os organismos internacionais ganhassem força ou fossem os locais de coordenação de uma resposta global. Mergulhado em seu combate contra o “globalismo” que destruiria as identidades nacionais, o Itamaraty ficou de fora de reuniões internacionais e, quando participou, fez questão de usar o palanque para rejeitar qualquer ideia que significasse um reconhecimento da necessidade de um plano global contra o vírus.


Naquele mês de abril de 2020, o Ministério da Saúde informaria que não faria parte da aliança, batizada de Covax. Sua explicação: temos outros acordos bilaterais sendo costurados. Nunca explicaram quais eram esses planos. Pressionado, porém, o Brasil acabou cedendo alguns meses depois e aderiu ao projeto, mas sem grande entusiasmo. Ao fazer seu pedido por vacinas no fundo global, solicitou o mínimo que poderia ser comprado: o equivalente a 10% de sua população. Pelas regras, países poderiam ter solicitado até 50% de sua população.


Hoje, sem apoio internacional suficiente, sem recursos e diante de governos pseudo-nacionalistas como o do Brasil, a aliança sofre para começar a distribuir vacinas. Em Genebra, não são poucos os negociadores que acreditam que um envolvimento mais direto do Brasil no projeto poderia ter convencido outros a aderir e teria transformado a aliança numa realidade imediata.


Se a via multilateral não interessava, a escolha por acordos bilaterais também se mostrou inapta e permeada por considerações ideológicas. Tentando frear a expansão da influência da China no mundo e mais preocupado em atacar o “comunavírus”, o Governo optou por promover uma campanha contra as vacinas chinesas. Diversas empresas, nos últimos meses, relataram como entregaram propostas ao Governo e se surpreenderam com respostas frias por parte do Planalto. No governo federal, a ideia era de apenas a vacina da AstraZeneca seria suficiente.


Enquanto isso, pelo mundo, países tomaram a decisão de evitar a todo custo colocar todas suas apostas em apenas uma ou dois fornecedores de vacinas. Em Bruxelas, por exemplo, a União Europeia fechou acordos com seis empresas diferentes. Nos EUA, mesmo o governo de Donald Trump decidiu estabelecer acordos com seis fornecedores.


Na Coreia do Sul, o país garantirá seu abastecimento com três empresas, além de desenvolver projetos de uma vacina nacional com outros 15 laboratórios nacionais. Na China, além de ter quatro vacinas já em negociações com a OMS para conseguir uma aprovação global, o governo fez questão de fechar um acordo com os alemães da BioNTech para um abastecimento extra de 100 milhões de doses. Outros também estão sendo negociados com empresas ocidentais.


Sim, existe uma profunda escassez de vacinas no mundo. Mas é justamente num momento de crise que a capacidade de um país navegar e recorrer a aliados se mostra vital. No caso do Brasil, a aposta se mostrou desastrosa. Quando precisou de ajuda, descobriu que seus parceiros nacionalistas eram, de fato, nacionalistas.


Num dos episódios mais reveladores do amadorismo do Itamaraty, o governo preparou um avião para ir buscar os insumos da Índia, necessários para a vacina da AstraZeneca. Com pires na mão, Bolsonaro escreveu ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Mas, por enquanto, Nova Delhi rejeitou fazer a entrega ao Brasil, dando (obviamente) prioridade para o início de sua campanha nacional de vacinação.


Opções começam a ser buscadas em Israel e mesmo nos EUA. Mas, ao apagar das luzes do Governo Trump e o desembarque de Joe Biden, o Governo já começa a descobrir a tradução da palavra pária. As opções para pedir ajuda ainda são limitadas. Afinal, a chancelaria fez questão de dedicar parte de seu tempo, esforço e dinheiro dos contribuintes brasileiros nos últimos anos para ofender líderes estrangeiros e queimar pontes que tinham sido construídas por décadas com parceiros internacionais.


O mais irônico e trágico disso tudo é que a história poderia ter sido radicalmente diferente. O Brasil é um dos únicos países do mundo com uma capilaridade no sistema de saúde, experiência, conhecimento científico e capacidade de mobilização para vacinar milhões de pessoas por dia. A crise brasileira, não por acaso, chama a atenção internacional. Nos bastidores da OMS, diretores não escondem o espanto sobre a situação do Brasil. “Vocês são um país com ótimos cientistas, orgulhosos de seu passado de saúde pública. O que ocorreu?”, perguntou um dos líderes da agência no esforço contra a pandemia.


A resposta não se limita à dimensão da incompetência daqueles no poder. O fracasso é um resultado direto de uma política externa que tem como pilar a ideologia, e não os interesses dos cidadãos.


Quando for iniciada, nesta quarta-feira, a maior campanha de vacinação da história do país dependerá num primeiro momento de uma vacina chinesa, justamente aquele que havia sido desprezada, ironizada e evitada pelo governo federal. Independente da ironia de uma cena digna do realismo mágico, a demora do país em começar a vacinação e a falta de imunizantes suficientes não são acidentes. Mas consequência de uma diplomacia que mostrou todos os seus limites e fracassou ao ser confrontado por seu maior teste. Gestos como o de minar a confiança em uma vacina apenas por sua origem ou se negar a promover uma resposta global fazem parte de um pacote negacionista que explica o colapso de Manaus e a dor de milhares de famílias brasileiras. Nesse caso, o impeachment seria insuficiente.

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Jamil Chade é correspondente na Europa desde 2000, mestre em relações internacionais pelo Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra e autor do romance O Caminho de Abraão (Planeta) e outros cinco livros.

 

EDITORIAL do COMENDADOR.


(O texto foi publicado orignalmente no FACEBOOK, de madrugada, horas antes de a ANVISA dar autorização para o uso da vacina e início da vacinação

O título, talvez estranho, é porque também sou conhecido no Face como "Comendador")

EDITORIAL do COMENDADOR.

É inacreditável a cegueira política de Jair Messias Bolsonaro. A gravidade da pandemia deu-lhe uma oportunidade de ouro de liderar a salvação da pátria, sem contar a consolidação de um nome forte em 2022. 

Mas Jair Messias Bolsonaro é cego porque não soube ou quis ver. Não quis ver as evidências científicas mais que propaladas de que a doença, pra começar, era pandêmica, mundial. Não quis ver que a pandemia trazia, no curto prazo, uma tragédia social e econômica. Os principais lideranças mundiais o perceberam, algumas de imediato, outras cairam em si ao vislumbrarem o desastre à sua porta, e deram meia volta.

Não Jair Messias Bolsonaro. Desde o início respondeu com desprezo. Desde o início a doença - grave - era uma "gripezinha", uma bobagem. Fez questão de dizer que lamentava, mas não se sentia culpado pelas mortes. Fez questão de dizer que a pandemia era tão-somente um "vírus chinês", uma conspiração mundial dirigida pela China. Ao invés de se mirar num Macron ou Angela Merkel, espelhou-se em Donald Trump, o pior de todos os presidentes dos Estados Unidos. 

Mas Jair Messias Bolsonaro foi além. Demitiu o ministro Mandetta que procurava fazer um bom trabalho esgrimindo contra as fantasias da Cloroquina. Outro ministro, Teich, não aguentou e largou o jaleco, ao perceber que teria que ser um fantoche da estupidez científica e política do chefe. Finalmente confirmou Pazuello, este sim, o ministro perfeito: apesar do generalato, comporta-se como um cabo que não questiona ordens superiores. 

A cegueira de Bolsonaro não fica só nisso. Fez de tudo para atrapalhar as iniciativas de governadores, notadamente o de São Paulo. Bolsonaro queria ter o controle de tudo, mas não queria fazer nada. O STF teve que intervir e dizer que, sim, os governadores poderiam tomar iniciativas em prol da saúde da população. O presidente viu nisso um insulto a sua autoridade. 

A ANVISA também sucumbiu à cegueira do presidente. Aparelhada por militares, fez a sua parte, obstruindo ou retardando, o que é público e notório.

Pessoalmente, Bolsonaro demonstrou total desprezo pelo bom senso. Pra que andar de máscaras? Pra que evitar aglomerações? As mais comezinhas medidas de proteção antes da vacina foram solenemente ignoradas __ e todas elas com o aplauso ignorante de seus seguidores. Aliás, neste tocante, frise-se: Bolsonaro sempre foi fiel a seus seguidores, os ignorantes, e estultos negacionistas.

Em dezembro, Europa e Estados Unidos começaram a vacinação. O que fez Bolsonaro? Ficou inerte, nessa altura uma inércia criminosa. Quando viria a vacina? Não sabia, talvez lá pra fevereiro, março, sabe-se lá..., as pessoas poderiam virar jacaré e ele não queria se responsabilizar por isso. Muito amor envolvido...

Mas a realidade foi cruel e não esperou a indecisão presidencial. As mortes continuaram ocorrendo. O presidente arranjou um tempinho para nadar com seus fãs, mas a morte continuou atenta... Os cadáveres se amontoam nos hospitais; mais covas são abertas; faltam até caixões...

Tendo que se render à realidade (ufa! finalmente!) ficou com pressa. Mandou um avião à Índia: levou uma trombada de Ganesha. E agora? Agora, não tinha mais jeito: requisitou milhões de doses da vacina de São Paulo, aquela pela qual lutou o "calça apertada", porque, AGORA, quer ser o primeiro a iniciar a vacinação. Mas..., tem plano de vacinação? Mais ou menos, ou seja, tudo aquilo que a cegueira política engendra: com falta de agulhas e seringas, com falta de vacinas para todos, enfim, todo um conjunto de incompetência criminosa. Mas, o ministro-general não é expert em logística? Coloco em dúvida a expertise...

Estamos furiosos e apreensivos __ pelo menos nós que não acreditamos em fantasias.

 Jair Messias Bolsonaro poderia se qualificar como um "mito", mas dolorosamente percebemos que se trata de uma estulta farsa.

Jorge Santos da Viriato

17/01/2021.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

 

UMA MENTALIDADE DESTRUTIVA da DEMOCRACIA...





A caveira é a imagem padrão de qualquer tipo de desgraça.
Com ela em vista, mostro como pensa um caveira da democracia.

O autor da postagem é OLAVO DE CARVALHO, que apoiou a baderna antidemocrática e insurreicional de ontem, 6 de janeiro 2020, no Congresso dos Estados Unidos.
O que os motivava? A contrariedade a ideias torpes que defendem. Para eles, tudo que significa civilização, democracia, direitos humanos é motivo de desprezo e chacota. A ascensão de Trump soltou os bichos! Se um governante deve conter ou, pelo menos, não incentivar os piores sentimentos de um povo, foi exatamente o que DONALD TRUMP não fez, muito pelo contrário.

A pessoas que prezam a democracia (mesmo reconhecendo seus defeitos...) ficaram estarrecidas __ e ficarão no futuro, quando, adultos, vierem a saber pelos livros de História.
Mas o pior para nós brasileiros é saber que AQUI existe um admirador-mór, nosso próprio presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro já demonstrou de maneira inequívoca sua devoção e alinhamento de ideias. Nem se fale de figuras como Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, ou de Ernesto Araújo, nosso chanceler, que, já disse abertamente, que o Brasil deveria ser até um “pária” internacional, em defesa dos princípios defendidos pelo Deus (ou deus, com minúscula?) de Trump.

Observou-se desde 2019 que Bolsonaro e seguidores não mediram esforços para estarem perfeitamente alinhados com Trump. Olavo de Carvalho é tido como “guru” dos Bolsonaros __ embora ele o negue. E Olavo, a propósito, também achou que Trump foi roubado pelo Biden, a quem chama de Bidê. O mundo reconheceu antecipadamente a vitória de Biden antes da votação do Colégio Eleitoral. Bolsonaro se negou a fazê-lo, num assombroso silêncio constrangedor.

Mas, como pensam os apoiadores de Trump? O que lerão é uma síntese daquele pensamento (se é que pode ser chamado assim). Sim, não foi Trump que escreveu, mas reflete o reacionarismo daquela gente. Se você compulsar a internet ao longo dos governos Trump e Bolsonaro, você encontrará o que vai sintetizado abaixo.