sexta-feira, 16 de março de 2018

ÚLTIMAS PALAVRAS, JB, 16/03/2018 - MARIELLE FRANCO



ÚLTIMAS PALAVRAS, JB, 16/03/2018



(Em artigo enviado ao JB horas antes de sua morte, Marielle diz que intervenção não é solução
Jornal do Brasil)

Marielle Franco


Reforma Trabalhista, PEC dos Gastos, Reforma da Previdência. O impacto dessas profundas mudanças, inspiradas em um projeto político retrógrado, alinhado com interesses que servem ao capital internacional e a setores do empresariado, arremessa um contingente de cidadãos e cidadãs para uma espiral de pobreza. 

É neste contexto que tentamos ampliar o olhar sobre a Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro e avaliar sua real intenção, já que o estado está em décimo lugar nos índices de violência, atrás de Sergipe, Goiás e Maranhão — para citarmos como exemplos apontados no Anuário de Segurança Pública. 

Sendo assim, a Intervenção Federal busca se alicerçar numa justificativa que não tem assento na realidade. Nossa pergunta que não quer calar: por que o Rio de Janeiro?

As últimas experiências mostram que a ocupação das Forças Armadas não resolveu o problema de insegurança. Inclusive, é importante que observemos os anos em que o Exército é levado às ruas para “solucionar” uma situação emergencial. O que há em comum não é um episódio alarmante na segurança, mas o fato de que são todos anos eleitorais. O que tivemos como resultado desta política? 

O interventor federal General Braga Netto declarou que “o Rio de Janeiro é laboratório para o Brasil”. E o que vemos é que neste “laboratório” as cobaias são os negros e negras, periféricos, favelados, trabalhadores. A vida das pessoas não pode ser experimento de modelos de segurança. O apontamento das favelas, como lugar do perigo, do medo que se espraia para a cidade, desperta o mito das classes perigosas, como bem ressalta a psicóloga Cecília Coimbra, colocando a favela como objeto principal e inimiga pública. 

No último fim de semana, pelo menos cinco pessoas morreram e quatro ficaram feridas na Região Metropolitana do Rio. Delas, quatro eram mulheres. Alba Valéria Machado morreu ao tentar proteger o filho, em Nova Iguaçu. Natalina da Conceição foi atingida durante confronto entre PMs e traficantes na Praça Seca. Janaína da Silva Oliveira morreu em tentativa de assalto em Ricardo de Albuquerque.  Tainá dos Santos foi atingida por um tiro de fuzil na comunidade Vila Aliança. São as mulheres negras e periféricas que perdem seus filhos para a letalidade. 

Essa estatística assustadora demonstra que mesmo às vésperas de completar um mês do início da Intervenção, a tão falada sensação de segurança não passa de um discurso político-midiático. E as mortes têm cor, classe social e território. Definitivamente a segurança pública não se faz com mais armas. Mas com políticas públicas em todos os âmbitos. Na Saúde, Educação, Cultura e geração de emprego e renda. 

É premente a necessidade de monitorarmos esse processo, tendo o cuidado de lutar para que os direitos individuais e coletivos sejam assegurados, para que as instituições democráticas sejam preservadas e sigam autônomas. O contrário disso se revelaria algo bem perigoso em uma sociedade que tem uma tradição patrimonialista, pouco afeita ao trato democrático e que tem uma relação histórica violenta com sua população mais vulnerável. 


* Marielle Franco era vereadora da cidade do Rio (PSOL) e relatora da Comissão da Câmara Municipal de Acompanhamento da Intervenção Federal.
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Minha opinião pessoal: 

a vereadora revela-se totalmente equivocada sobre a Intervenção Federal na segurança pública do Rio de Janeiro. 

Ela fala em mortes de pessoas da periferia, dos pobres __ mas dá a entender que essas mortes são por causa das forças de segurança? Sim, de fato ocorrem, isto é mais do que patente. Mas e a violência sistemática do tráfico e das milícias? 

Podemos até dizer que as milícias não matam: afinal, precisam de consumidores para seus serviços extorsivos... Isto não é violência, pelo que diz a vereadora... E o tráfico? Os favelados estão satisfeitos com o tráfico (e as milícias) ou querem que desapareça (desapareçam) de uma vez por todas ? Não é violência quando um morador de favela é OBRIGADO a esconder em sua casa mercadorias roubadas ou armas? 

Uma pergunta: a intervenção no Rio foi decretada por causa dos pobres ou por causa do tráfico, das milícias e da banda podre da polícia? O exército entra nas favelas para caçar pobres ou caçar bandidos?

Por tudo isso, reafirmo que Marielle estava equivocada totalmente sobre a INTERVENÇÃO. Ela era decididamente CONTRA. Morreu nas mãos de gente que pensava como ela respeitantemente à INTERVENÇÃO.

E agora seus eleitores , e amigos, e companheiros  de partido, e artistas, e jornalistas , e intelectuais cobram dos INTERVENTORES a solução do caso...